domingo, 21 de abril de 2019

Centenário do Armistício (1918 - 2018) / "Remembrance Poppy".

Observe atentamente o bloco a seguir (figura 1).

Figura 1: bloco canadense alusivo ao centenário do armistício de 1918. Coleção: Wilson de Oliveira Neto (São Bento do Sul, SC).

Este bloco faz parte das emissões dos Correios do Canadá comemorativas ao aniversário de cem anos do armistício que resultou no fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918. Durante o ano passado, diversos países celebraram a efeméride com inúmeras emissões comemorativas.

Um belo bloco, não é mesmo?

Nele, existem vários aspectos que podem ser examinados, porém interessa para esta postagem um pequeno detalhe: uma flor vermelha estilizada impressa entre os anos de "1918 e 2018".

Remembrance Poppy.

Essa flor não está ali por acaso, sendo que ela também aparece nos cinco selos que formam o bloco. Ela é um símbolo que representa e homenageia os soldados que morreram durante o conflito. Seu nome é Remembrance poppy e suas origens estão situadas nos Estados Unidos, durante as celebrações do armistício, em 1918 [1].

A criação desse símbolo é atribuída à Moina Michael (1869 - 1944), à época, voluntária na Associação Cristã de Moças, em Nova Iorque [2]. Inspirada pelo poema In Flanders Fields, escrito pelo Tenente-Coronel John McCrae (1872 - 1918), Michael promoveu o uso de papoulas vermelhas nas lapelas de casacos e paletós que, com o passar do tempo, se tornaram nos países de língua inglesa uma referência aos homens e às mulheres que morreram em serviço em todos os conflitos militares em que se envolveram [3].

Notas:

[1] - SCHÖNPFLUG, Daniel. A era do cometa: o fim da Primeira Guerra Mundial e o limiar de um novo mundo. São Paulo: Todavia, 2018, p. 9 - 11.
[2] - Ibidem, p. 10.

sábado, 23 de março de 2019

De Munique para Praga.

Durante o regime nacional-socialista, diversas cidades alemães receberam os títulos de "capital" (Hauptstadt) ou "cidade" (Stadt): Nuremberg, por exemplo, foi agraciada com o título de "Stadt der Reichsparteitage", em alusão à convenção anual do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães que a cidade sediou, entre 1927 e 1938 (WYKES, 1978).

A cidade de Munique está localizada no sul da Alemanha, no estado da Baviera, do qual é capital. Suas origens estão situadas na Idade Média e, tradicionalmente, a fundação dessa cidade é considerada o ano de 1158. Atualmente, sua população é estimada em 1.388.308 habitantes, distribuídos ao longo de vinte e cinco bairros.

O Partido dos Trabalhadores Alemães foi fundado em 1919, na cidade de Munique, pelo ferreiro Anton Drexler (1884 - 1942) e pelo jornalista Karl Harrer (1890 - 1926). Em setembro do mesmo ano, Adolf Hitler (1889 - 1945) ingressou no partido que, a partir de 1920, passou a se chamar Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (LENHARO, 1998).

No contexto do regime nacional-socialista, Munique recebeu o título de "Capital do Movimento" ou Hauptstadt der Bewegung. Em sua síntese sobre o surgimento do Nazismo e sua acensão ao poder na Alemanha, Richard Evans (2010) comenta que foi comum entre os nazistas o uso da palavra "movimento" no lugar de "partido".

Bewegung é a palavra alemã para movimento. Segundo o dicionário alemão-português/português-alemão organizado pelo Dr. Friedrich Irmen (1995), além de movimento, as palavras "agitação", "rotação", "emoção" e mesmo "comoção" são associadas a Bewegung. Neste sentido, Bewegung, inserido no imaginário político nacional-socialista, atribui um sentido dinâmico ao movimento político iniciado em Munique, em 1919. É possível que, na atribuição de sentidos acerca do Nacional-Socialismo entre seu público, Bewegung fosse mais conveniente que o "burocrático" Partei.

O título Hauptstadt der Bewegung aparece em diversos bilhetes e marcas postais usados em Munique, a exemplo do envelope circulado que faz parte desta postagem, cujos carimbos comemorativo e obliterador aplicados ostentam esse título, conforme é possível ver na figura 1. 

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto (São Bento do Sul, SC).

Descrição.

Envelope circulado entre as cidades de Munique (Alemanha, 20/04/1942) e Praga (República Checa, 21/04/1942). Carta registrada com porte de trânsito de longa distância, como indicam a etiqueta com o número do registro (319) e os selos postais de 30 e 12 centavos de Marcos, respectivamente, correspondentes aos portes do registro e do trânsito de longa distância.

Carimbo datador/obliterador aplicado sobre o selo postal regular de 30 centavos e carimbo comemorativo aplicado sobre a emissão comemorativa de 12+38 centavos, lançada em 13 de abril de 1942, em celebração ao aniversário de 53 anos de idade de Adolf Hitler, comemorado em 20 de abril, conforme indicam as datas dos carimbos.

Referências.

EVANS, Richard J. A chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2010.
IRMEN, Dr. Friedrich. Langenscheidts Taschen-wörterbuch Portugiesisch. 13. ed. Berlim: Langenscheidt, 1995.
LENHARO, Alcir. Nazismo: "o triunfo da vontade". 6. ed. São Paulo: Ática, 1998 (Série Princípios; v. 94).
WYKES, Alan. As reuniões de Nuremberg: os triunfos de Hitler. Rio de Janeiro: Renes, 1978 (História Ilustrada do Século da Violência; v. 5).

domingo, 3 de março de 2019

Homenagem aos ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira pelo Clube Filatélico Brusquense.

No último dia 21 de fevereiro, foi comemorado o aniversário de 74 anos da tomada de Monte Castello por efetivos da 1a. Divisão de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira - FEB

Ao avaliar a tomada de Monte Castello, o brasilianista Frank D. McCann (1993, p. 277) concluiu que:

"[...] sem dúvida nenhuma, muito foi feito em Monte Castelo pelos febianos e pelos militares brasileiros. Para eles, o engajamento bem-sucedido teve grande importância simbólica. Sua participação na conquista de Belvedere-Castelo convenceu os brasileiros de que eles estavam à altura da tarefa a que tinham se lançado [...]. O fato é que a FEB e a 10a. Divisão de Montanha dos Estados Unidos foram efetivas na operação conjunta que desalojou os alemães de elevações importantes, permitindo, assim, que a ofensiva de primavera fosse desencadeada. Se uma das divisões tivesse falhado, a ofensiva teria sido adiada".

Atualmente, é praticamente consenso entre os autores da literatura histórica sobre a FEB, que sua criação e envio ao T.O. italiano foram resultados de uma iniciativa brasileira.

"[...] a FEB foi uma ideia brasileira, que resultou de um plano deliberado do governo Vargas e não de uma manobra americana para envolver o Brasil diretamente em combate", explica McCann (1993, p. 270). Para Vagner Camilo Alves (2006), apesar da FEB ter envolvido instituições e pessoas de diversas procedências e países, foi Getúlio Vargas (1882-1954) quem "bateu o martelo" para sua criação.

Uma justa homenagem.

Em Santa Catarina, inúmeros cidadãos-soldados serviram na FEB e participaram de operações de guerra significativas, a exemplo da tomada de Monte Castello. A experiência militar brasileira na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), através da FEB, faz parte das memórias familiares e municipais no estado.

Em outubro de 2018, o Clube Filatélico Brusquense homenageou os ex-combatentes de Brusque e região, através da emissão de um belo selo postal personalizado. Trata-de de uma emissão de 1. Porte Nacional para Cartas Comerciais, ilustrada com o emblema da FEB, "cobra fumando", tendo ao fundo, um mapa do T.O. italiano, com destaque para as regiões de Monte Castello e Montese, cidade esta em que ocorreu o combate urbano que resultou no maior número de baixas entre os combatentes brasileiros.

A emissão foi acompanhada por uma belíssima folhinha filatélica produzida pelo Clube Filatélico Brusquense (figura 1) sobre a qual foi fixado um exemplar do selo postal personalizado, "amarrado" com um carimbo datador de 29 de outubro de 2018, da Agência Central de Brusque.

Figura 1: frente da folhinha comemorativa. Coleção Wilson de Oliveira Neto.

Já o verso da folhinha, figura 2, foi ilustrada com o emblema da "cobra fumando" sobre o qual foram listados dos ex-combatentes de Brusque e região, um total de 48 pessoas, muitas das quais descendentes de alemães e italianos, como sugerem os sobrenomes "Bianchessi", "Maestri", "Moritz" ou "Stoll", além dos brasileiros "Gonzaga" e "Oliveira".

Figura 2: verso da folhinha comemorativa. Coleção Wilson de Oliveira Neto.

Referências.

ALVES, Vagner Camilo. Armas e política: o Exército e a constituição da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Anais do 30. Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu, 24-28 out., 2006, p. 1-21.
McCANN, Frank D. A Força Expedicionária Brasileira na Campanha da Itália (1944-1945). In: SILVEIRA, Joel; MIRTKE, Tássilo (orgs,). A luta dos pracinhas: a FEB 50 anos depois, uma visão crítica. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1993.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Aniversário de 45 anos da invasão da Polônia.

A Campanha da Polônia (setembro - outubro de 1939) marcou o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na Europa. A série que faz parte desta postagem foi emitida pelos correios da Polônia em comemoração ao aniversário de 45 anos da invasão alemã, iniciada em 1. de setembro de 1939. A série foi lançada no dia 1. de setembro de 1984, sendo formada por dois valores, 5 e 6 Zlotys.

A série recorda dois episódios e personagens da resistência polonesa contra o avanço alemão, o Coronel Stanislau Dabek (1892-1939), herói na retirada para Kopa Oksywska, em setembro de 1939, e o General Tadeusz Kutrzeba (1885-1947), responsável pelo planejamento e pela execução da contraofensiva ao longo do rio Bzura, desencadeada contra o 8. Exército alemão, em 9 de setembro, pegando-o de surpresa (ZALOGA, 2009). 

Sct., Polônia, 2639/40. Coleção Wilson de Oliveira Neto.

A contraofensiva do rio Bzura foi rechaçada pelos alemães. Em sua avaliação, Steven J. Zaloga (2009, p. 67-70) explicou que:

"O desenrolar da contra-ofensiva do Bzura faz ressaltar as duas principais carências do Exército polaco de 1939 comparado com a Wehrmacht. O primeiro era muito menos móvel que o alemão, que foi capaz de levar reforços importantes até ao sector, alguns desde lugares distantes, enquanto os polacos aguardavam desesperadamente que chegassem os restos do Exército de Pomorze. A infantaria polaca combateu bem quando esteve em paridade com o inimigo, mas os alemães, graças à sua maior mobilidade táctica, conservaram a sua superioridade numérica e de potência de fogo, A segunda carência notável dos polacos foram as suas antiquadas transmissões. Começada a contra-ofensiva, Kutrzeba apenas teve contacto com as forças polacas de fora do seu sector e foi incapaz de coordenar as suas operações com unidades próximas de Varsóvia. O Alto-Comando, em Brzesc, demonstrou estar pouco preparado para dirigir operações complexas numa localidade isolada".

Referência.

ZALOGA, Steven J. A invasão da Polónia: guerra-relâmpago. Barcelona; Oxford: RBA Coleccionables; Osprey Publishing, 2009.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Marinha polonesa durante a Segunda Guerra Mundial.

Neste ano, será comemorado o aniversário de oitenta anos do começo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A invasão alemã à Polônia, iniciada durante a madrugada do dia 1. de setembro de 1939, assinalou o início desse conflito (BEEVOR, 2015).

Segundo narrou Steven Zaloga (2009), a campanha alemã foi desencadeada às quatro horas da madrugada, com um ataque do couraçado alemão Schleswig-Holstein contra a guarnição polonesa de Westerplatte, localizada próxima à cidade de Danzig, na Polônia.

As forças armadas polonesas não resistiram aos alemães, que colocaram em prática a doutrina militar da Guerra-relâmpago. Em 27 de setembro, a capital da Polônia, Varsóvia, se rendeu. Alguns dias depois, em 6 de outubro, a campanha polonesa foi encerrada com a rendição do General Franciszek Kleeberg (1888-1941), cujo grupamento tático representou a última grande unidade do exército polonês em combate (ZALOGA, 2009).

Contudo, ao longo da Segunda Guerra Mundial, os cidadãos poloneses contribuíram com o esforço de guerra aliado de diversas maneiras, através de guerrilheiros, de voluntários oriundos de diversos países, entre os quais o Brasil, e de remanescentes das forças armadas da Polônia, a exemplo do Exército de Anders. Na filatelia polonesa, a memória da Segunda Guerra Mundial está presente desde o final do conflito, em 1945.

Marinha polonesa durante a Segunda Guerra Mundial.

Série de selos postais comemorativos lançada em 25 de setembro de 1970. Ela é formada por três valores, 40 Grosz, 60 Grosz e 2,50 Zloty. Monocromáticos e retangulares, os selos desta série foram impressos em "talho-doce", comum aos selos europeus da época e que confere a eles alto-relevo e grande beleza.

Sct. 1760/62. Coleção Wilson de Oliveira Neto.

O primeiro valor, 40 GR, é ilustrado com o destróier "Piorun"; o segundo valor, 60 GR, com o submarino "Orzel". Já o último e mais alto valor, 2,50 ZL, também foi ilustrado com um destróier, denominado "Garland". No canto esquerdo de cada valor, o escudo da Batalha de Grunwald, travada em 15 de julho de 1410.

Referências.

BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 2015.
ZALOGA, Steven J. A invasão da Polónia: Guerra-relâmpago. Barcelona / Oxford: RBA Coleccionables S.A.; Osprey Publishing, 2009.

sábado, 19 de janeiro de 2019

Niemals Vergessen!

As experiências do Nazismo e da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) marcaram profundamente a memória social de diversos países da Europa. Essas memórias, por sua vez, possuem diversos suportes, a exemplo dos selos postais [1].

A série que faz parte desta postagem (figura 1) foi lançada pelos correios da Áustria em 16 de setembro de 1946. No sistema de catalogação Scott, ela corresponde aos selos semi-postais B-171 / 178. "Semi-postal", pois tratam-se de selos sobretaxados (o catálogo Scott separa em uma categoria própria todos os selos que sofrem sobretaxação). O título dessa série é "Propaganda Antifascista" [2].

Figura 1: Propaganda Antifascista. Sct., Áustria, 1946, B-171/178. Coleção: Wilson de Oliveira Neto (São Bento do Sul, SC).

Em 1938, a Áustria foi anexada à Alemanha, fato este conhecido como Anschluss. Na ocasião, os correios alemães emitiram cartões, marcas (carimbos e flâmulas) e selos postais. Como em outros países da Europa que sofreram a ocupação alemã ou foram incorporados à "Grande Alemanha", o repúdio ao Nazismo também envolveu a emissão de selos postais.

Notas:

[1] - A respeito das relações entre selos postais e memória, recomenda-se a leitura de: LE GOFF, Jacques. História e memória. 4. ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1996 (Coleção Repertórios).
[2] - SCOTT. Standard postage stamp catalogue volume 1. Sidney: Scott Publishing Co., 2007, p. 661.