quarta-feira, 29 de outubro de 2014

De Liubliana para Osterode am Harz.

Por que um bilhete postal italiano pré-selado foi usado em uma correspondência trocada entre a capital da Eslovênia, Liubliana, e a cidade alemã de Osterode am Harz? Esta foi a pergunta que fiz em pensamento quando vi pela primeira vez o bilhete postal que ilustra esta postagem. A resposta veio através do estudo sobre o contexto histórico em que ele circulou, o começo do ano de 1943, em plena Segunda Guerra Mundial. A partir de 1941, o território da atual Eslovênia foi ocupado por tropas do Eixo, alemãs e italianas. Também outras regiões da Eslovênia foram anexadas à Croácia e à Hungria, que eram aliadas da Alemanha e da Itália. O sul da Eslovênia, onde está localizada sua capital, a cidade de Liubliana (Ljubljana em idioma local), foi ocupado por tropas italianas. Ou seja, na época em que o bilhete postal desta publicação foi enviado para a Alemanha, Liubliana estava sob ocupação militar italiana, residindo aí a razão provável para a validade postal de um bilhete pré-selado italiano circulado entre o que era parte da Iugoslávia e a Alemanha.

1. Descrição do documento.

Bilhete postal circulado entre as cidades de Liubliana (Eslovênia, 30/01/1943) e Osterode am Harz (Alemanha - sem data de chegada registrada). Correspondência simples, que sofreu dupla-censura, italiana e alemã, conforme comprovam os diversos carimbos de censura e de censor aplicados sobre a frente do bilhete. A censura postal italiana foi realizada, provavelmente, após o envio do bilhete, talvez ainda em Liubliana, que naquele momento, janeiro de 1943, estava sob ocupação militar italiana. Já a censura postal alemã, é certo que foi feita em Viena (Áustria), pois lá funcionou um centro de censura postal destinada à verificação de correspondências oriundas da Hungria, dos Bálcãs e da Turquia.

Figura 1: frente do envelope, sobre a qual foram aplicados diversos carimbos alemães e italianos de censura e de censor. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Figura 2: verso do envelope, em que é possível ler a mensagem datilografada por um certo Karel Golob, endereçada ao senhor Ernst Hinrichs. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Do Rio de Janeiro para Pratteln.

O envelope desta postagem é um item de história postal importante por duas razões: a) foi transportado por um Boeing 314 - Clipper; b) ao longo da sua viagem entre o Brasil e a Suíça, seu conteúdo foi checado por três serviços distintos de censura postal, ou seja, sofreu tripla censura. Também pudera, em fevereiro de 1944 (mês e ano em que o envelope foi despachado), o mundo ainda estava em guerra e o Brasil, desde agosto de 1942, encontrava-se em guerra contra a Alemanha e a Itália, portanto, todo o cuidado era pouco.

1. Os Clipperes da Panam.

O Boeing 314 - Clipper é considerado o mais luxuoso veículo de transporte aéreo já produzido. Ele foi um hidroavião fabricado entre 1938 e 1941, com um total de doze unidades produzidas para a empresa de transporte aéreo Panam. Junto com o transporte de passageiros, os Clipperes também transportavam malas postais, em um típico serviço de correio aéreo, como por exemplo, o NC 18603, o "Yankee Clipper", que iniciou o serviço transatlântico de correios. Esta aeronave operou entre 1939 e 1943, quando sofreu um acidente em Lisboa, Portugal. Os Clipperes se tornaram obsoletos após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945. A aviação comercial, a partir do pós-guerra, produziu aeronaves mais eficientes e seguras, além de entrar na "era do jato".

2. Descrição do documento.

Envelope circulado entre as cidades do Rio de Janeiro (Brasil, 29/02/1944) e Pratteln (Suíça, sem data de chegada registrada). Carta simples, transportada pelo correio aéreo, o "Clipper Service" oferecido pela empresa aérea Panam, com trânsitos (?) previstos em Natal (Brasil), Bolama (Guiné-Bissau), Lisboa (Portugal) e Genebra (Suíça). Correspondência interceptada e verificada por três serviços de censura postal - Brasil, Estados Unidos e Alemanha - durante sua viagem à Suíça, conforme comprovam as marcas postais aplicadas sobre o envelope e as fitas para lacre usados pelos censores que manusearam o envelope. Ainda sobre as censuras postais que às quais a carta foi submetida, a primeira interceptação ocorreu já no Rio de Janeiro, provavelmente, após da entrada do envelope nos Correios. É o que comprovam os carimbos de censor (D.F. / 16) e de censura (D.F. / ?. MAR. 44) aplicados sobre o envelope. Em seguida, em algum ponto da Europa, a carta foi aberta e, novamente, checada por um censor, desta vez norte-americano (número 64292). Por último, ainda na Europa, antes da correspondência chegar à Suíça, ela foi retida pelo serviço de censura postal alemã e levada para o centro de censura localizado na cidade de Paris (França), onde foi, de novo, aberta e chegada. Sabemos que a verificação do conteúdo ocorreu na capital francesa, pois tanto no carimbo de censura quanto na fita de lacre há a letra "X" que corresponde ao centro de censura localizado em Paris.

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto (ex-Soffer).

Figura 2: verso do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto (ex-Soffer).


terça-feira, 14 de outubro de 2014

De Zurique para Londres.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), a  Suíça foi um país neutro. Contudo, isso não significa que seus cidadãos estiveram completamente isentos dos efeitos do conflito. É, pelo menos, o que sugere o bilhete postal publicado neste postagem, circulado entre as cidade de Zurique (Suíça) e Londres (Inglaterra), em 1943.

1. Descrição do documento.

Bilhete postal (postkarte) circulado entre as cidades de Zurique (Suíça, 17/05/1943) e Londres (Inglaterra, sem data de chegada registrada). Correspondência simples, transportada pelo serviço de correio aéreo, conforme comprovam o selo postal aéreo e a etiqueta azul fixados sobre o bilhete postal. Correspondência interceptada, durante seu trânsito para a Inglaterra, pelo serviço de censura postal alemão, como indica o carimbo de censura vermelho (ou rosa) aplicado sobre a frente do bilhete postal. A letra "b" presente no carimbo informa que o bilhete postal teve seu conteúdo checado pelo centro de censura postal situado na cidade Berlim (Alemanha), destinado para correspondências em trânsito pelo território alemão. Ao entrar na Inglaterra, o bilhete postal foi novamente interceptado, porém, pelo serviço de censura postal inglês, segundo mostra o carimbo retangular azul ("coroa", passed, p. 86) aplicado ao lado esquerdo do selo postal e do carimbo datador/obliterador. Tal como na Alemanha, o conteúdo do bilhete postal foi lido e liberado pelo censor "P.86" para seguir viagem até seu destino, a cidade de Londres. Finalizando, uma questão intrigante: tanto na frente quanto no verso do bilhete postal é possível ver longas manchas azuis retas, como se fossem feitas através do uso de pincéis e de forma intencional. Suspeitamos que essas manchas sejam o resultado da aplicação de desinfetante sobre o bilhete postal, prática comum em correspondências circulada por áreas de quarentena ou assoladas por epidemias. Contudo, até o momento nossos estudos não obtiveram resultados conclusivos para a confirmação ou refutação desta suspeita.

Figura 1: frente do bilhete postal. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Figura 2: verso do bilhete postal. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.