O envelope desta postagem é um item de história postal importante por duas razões: a) foi transportado por um Boeing 314 - Clipper; b) ao longo da sua viagem entre o Brasil e a Suíça, seu conteúdo foi checado por três serviços distintos de censura postal, ou seja, sofreu tripla censura. Também pudera, em fevereiro de 1944 (mês e ano em que o envelope foi despachado), o mundo ainda estava em guerra e o Brasil, desde agosto de 1942, encontrava-se em guerra contra a Alemanha e a Itália, portanto, todo o cuidado era pouco.
1. Os Clipperes da Panam.
O Boeing 314 - Clipper é considerado o mais luxuoso veículo de transporte aéreo já produzido. Ele foi um hidroavião fabricado entre 1938 e 1941, com um total de doze unidades produzidas para a empresa de transporte aéreo Panam. Junto com o transporte de passageiros, os Clipperes também transportavam malas postais, em um típico serviço de correio aéreo, como por exemplo, o NC 18603, o "Yankee Clipper", que iniciou o serviço transatlântico de correios. Esta aeronave operou entre 1939 e 1943, quando sofreu um acidente em Lisboa, Portugal. Os Clipperes se tornaram obsoletos após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945. A aviação comercial, a partir do pós-guerra, produziu aeronaves mais eficientes e seguras, além de entrar na "era do jato".
2. Descrição do documento.
Envelope circulado entre as cidades do Rio de Janeiro (Brasil, 29/02/1944) e Pratteln (Suíça, sem data de chegada registrada). Carta simples, transportada pelo correio aéreo, o "Clipper Service" oferecido pela empresa aérea Panam, com trânsitos (?) previstos em Natal (Brasil), Bolama (Guiné-Bissau), Lisboa (Portugal) e Genebra (Suíça). Correspondência interceptada e verificada por três serviços de censura postal - Brasil, Estados Unidos e Alemanha - durante sua viagem à Suíça, conforme comprovam as marcas postais aplicadas sobre o envelope e as fitas para lacre usados pelos censores que manusearam o envelope. Ainda sobre as censuras postais que às quais a carta foi submetida, a primeira interceptação ocorreu já no Rio de Janeiro, provavelmente, após da entrada do envelope nos Correios. É o que comprovam os carimbos de censor (D.F. / 16) e de censura (D.F. / ?. MAR. 44) aplicados sobre o envelope. Em seguida, em algum ponto da Europa, a carta foi aberta e, novamente, checada por um censor, desta vez norte-americano (número 64292). Por último, ainda na Europa, antes da correspondência chegar à Suíça, ela foi retida pelo serviço de censura postal alemã e levada para o centro de censura localizado na cidade de Paris (França), onde foi, de novo, aberta e chegada. Sabemos que a verificação do conteúdo ocorreu na capital francesa, pois tanto no carimbo de censura quanto na fita de lacre há a letra "X" que corresponde ao centro de censura localizado em Paris.
Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto (ex-Soffer).
Figura 2: verso do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto (ex-Soffer).
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