sábado, 23 de março de 2019

De Munique para Praga.

Durante o regime nacional-socialista, diversas cidades alemães receberam os títulos de "capital" (Hauptstadt) ou "cidade" (Stadt): Nuremberg, por exemplo, foi agraciada com o título de "Stadt der Reichsparteitage", em alusão à convenção anual do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães que a cidade sediou, entre 1927 e 1938 (WYKES, 1978).

A cidade de Munique está localizada no sul da Alemanha, no estado da Baviera, do qual é capital. Suas origens estão situadas na Idade Média e, tradicionalmente, a fundação dessa cidade é considerada o ano de 1158. Atualmente, sua população é estimada em 1.388.308 habitantes, distribuídos ao longo de vinte e cinco bairros.

O Partido dos Trabalhadores Alemães foi fundado em 1919, na cidade de Munique, pelo ferreiro Anton Drexler (1884 - 1942) e pelo jornalista Karl Harrer (1890 - 1926). Em setembro do mesmo ano, Adolf Hitler (1889 - 1945) ingressou no partido que, a partir de 1920, passou a se chamar Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (LENHARO, 1998).

No contexto do regime nacional-socialista, Munique recebeu o título de "Capital do Movimento" ou Hauptstadt der Bewegung. Em sua síntese sobre o surgimento do Nazismo e sua acensão ao poder na Alemanha, Richard Evans (2010) comenta que foi comum entre os nazistas o uso da palavra "movimento" no lugar de "partido".

Bewegung é a palavra alemã para movimento. Segundo o dicionário alemão-português/português-alemão organizado pelo Dr. Friedrich Irmen (1995), além de movimento, as palavras "agitação", "rotação", "emoção" e mesmo "comoção" são associadas a Bewegung. Neste sentido, Bewegung, inserido no imaginário político nacional-socialista, atribui um sentido dinâmico ao movimento político iniciado em Munique, em 1919. É possível que, na atribuição de sentidos acerca do Nacional-Socialismo entre seu público, Bewegung fosse mais conveniente que o "burocrático" Partei.

O título Hauptstadt der Bewegung aparece em diversos bilhetes e marcas postais usados em Munique, a exemplo do envelope circulado que faz parte desta postagem, cujos carimbos comemorativo e obliterador aplicados ostentam esse título, conforme é possível ver na figura 1. 

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto (São Bento do Sul, SC).

Descrição.

Envelope circulado entre as cidades de Munique (Alemanha, 20/04/1942) e Praga (República Checa, 21/04/1942). Carta registrada com porte de trânsito de longa distância, como indicam a etiqueta com o número do registro (319) e os selos postais de 30 e 12 centavos de Marcos, respectivamente, correspondentes aos portes do registro e do trânsito de longa distância.

Carimbo datador/obliterador aplicado sobre o selo postal regular de 30 centavos e carimbo comemorativo aplicado sobre a emissão comemorativa de 12+38 centavos, lançada em 13 de abril de 1942, em celebração ao aniversário de 53 anos de idade de Adolf Hitler, comemorado em 20 de abril, conforme indicam as datas dos carimbos.

Referências.

EVANS, Richard J. A chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2010.
IRMEN, Dr. Friedrich. Langenscheidts Taschen-wörterbuch Portugiesisch. 13. ed. Berlim: Langenscheidt, 1995.
LENHARO, Alcir. Nazismo: "o triunfo da vontade". 6. ed. São Paulo: Ática, 1998 (Série Princípios; v. 94).
WYKES, Alan. As reuniões de Nuremberg: os triunfos de Hitler. Rio de Janeiro: Renes, 1978 (História Ilustrada do Século da Violência; v. 5).

domingo, 3 de março de 2019

Homenagem aos ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira pelo Clube Filatélico Brusquense.

No último dia 21 de fevereiro, foi comemorado o aniversário de 74 anos da tomada de Monte Castello por efetivos da 1a. Divisão de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira - FEB

Ao avaliar a tomada de Monte Castello, o brasilianista Frank D. McCann (1993, p. 277) concluiu que:

"[...] sem dúvida nenhuma, muito foi feito em Monte Castelo pelos febianos e pelos militares brasileiros. Para eles, o engajamento bem-sucedido teve grande importância simbólica. Sua participação na conquista de Belvedere-Castelo convenceu os brasileiros de que eles estavam à altura da tarefa a que tinham se lançado [...]. O fato é que a FEB e a 10a. Divisão de Montanha dos Estados Unidos foram efetivas na operação conjunta que desalojou os alemães de elevações importantes, permitindo, assim, que a ofensiva de primavera fosse desencadeada. Se uma das divisões tivesse falhado, a ofensiva teria sido adiada".

Atualmente, é praticamente consenso entre os autores da literatura histórica sobre a FEB, que sua criação e envio ao T.O. italiano foram resultados de uma iniciativa brasileira.

"[...] a FEB foi uma ideia brasileira, que resultou de um plano deliberado do governo Vargas e não de uma manobra americana para envolver o Brasil diretamente em combate", explica McCann (1993, p. 270). Para Vagner Camilo Alves (2006), apesar da FEB ter envolvido instituições e pessoas de diversas procedências e países, foi Getúlio Vargas (1882-1954) quem "bateu o martelo" para sua criação.

Uma justa homenagem.

Em Santa Catarina, inúmeros cidadãos-soldados serviram na FEB e participaram de operações de guerra significativas, a exemplo da tomada de Monte Castello. A experiência militar brasileira na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), através da FEB, faz parte das memórias familiares e municipais no estado.

Em outubro de 2018, o Clube Filatélico Brusquense homenageou os ex-combatentes de Brusque e região, através da emissão de um belo selo postal personalizado. Trata-de de uma emissão de 1. Porte Nacional para Cartas Comerciais, ilustrada com o emblema da FEB, "cobra fumando", tendo ao fundo, um mapa do T.O. italiano, com destaque para as regiões de Monte Castello e Montese, cidade esta em que ocorreu o combate urbano que resultou no maior número de baixas entre os combatentes brasileiros.

A emissão foi acompanhada por uma belíssima folhinha filatélica produzida pelo Clube Filatélico Brusquense (figura 1) sobre a qual foi fixado um exemplar do selo postal personalizado, "amarrado" com um carimbo datador de 29 de outubro de 2018, da Agência Central de Brusque.

Figura 1: frente da folhinha comemorativa. Coleção Wilson de Oliveira Neto.

Já o verso da folhinha, figura 2, foi ilustrada com o emblema da "cobra fumando" sobre o qual foram listados dos ex-combatentes de Brusque e região, um total de 48 pessoas, muitas das quais descendentes de alemães e italianos, como sugerem os sobrenomes "Bianchessi", "Maestri", "Moritz" ou "Stoll", além dos brasileiros "Gonzaga" e "Oliveira".

Figura 2: verso da folhinha comemorativa. Coleção Wilson de Oliveira Neto.

Referências.

ALVES, Vagner Camilo. Armas e política: o Exército e a constituição da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Anais do 30. Encontro Anual da ANPOCS, Caxambu, 24-28 out., 2006, p. 1-21.
McCANN, Frank D. A Força Expedicionária Brasileira na Campanha da Itália (1944-1945). In: SILVEIRA, Joel; MIRTKE, Tássilo (orgs,). A luta dos pracinhas: a FEB 50 anos depois, uma visão crítica. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1993.