sábado, 29 de agosto de 2020

Síntese histórica e filatélica sobre a censura postal na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, parte 3.

Tal como em outros países, a exemplo do Brasil, a censura postal alemã praticada durante a Segunda Guerra Mundial gerou uma ampla tipologia de marcas postais.

Carimbos, marcas postais ou obliterações.

Em sua síntese sobre a Filatelia, Raymundo Galvão de Queiroz explica que, essencialmente, os carimbos têm a função de obliterar um selo postal aplicado sobre uma correspondência. Isto é, inutilizá-lo de tal forma que o impeça de ser reutilizado [1].

Ainda em Queiroz, as marcas postais são anteriores ao surgimento do próprio selo postal. De acordo com esse autor, ao longo do período "pré-adesivo", os carimbos existentes tiveram como função identificar a origem da correspondência despachada [2].

A partir do surgimento do selo postal e do desenvolvimento dos sistemas postais modernos, ocorreu a multiplicação e a diversificação dos carimbos, cujas funções foram além da obliteração. Para o colecionismo filatélico, esse fato deu origem à Carimbologia, também conhecida como Marcofilatelia ou Marcofilia.

"Marcofilatelia é o ramo da Filatelia que se dedica ao estudo da coleção de carimbos desde a época anterior ao selo", define Gehisa Saldanha [3].

Carimbos manuais e mecânicos.

Basicamente, a carimbologia acerca da censura postal alemã praticada durante a Segunda Guerra Mundial pode ser dividida em dois conjuntos: carimbos manuais e carimbos mecânicos [4].

Existiram dois tipos básicos de carimbos manuais, a a saber:

1. Carimbos circulares aplicados com tintas em tons de vermelho ou rosa com as armas da Alemanha e as seguintes informações escritas: Oberkommando der Wehrmacht (Estado-Maior das Forças Armadas, em uma tradução livre para o português) e Geprüft (Examinado). Esse tipo de carimbo poderia vir ou não acompanhado de uma letra do alfabeto latino que indicava o escritório de censura em que o exame da correspondência foi realizado (figura 1).


Figura 1: detalhe de um envelope circulado que foi examinado pela censura postal alemã no escritório de censura localizado na cidade de Berlim, Alemanha, conforme revela a letra "b"  visível tanto no carimbo quanto na fita de lacre. Coleção do autor.

Ainda sobre esse tipo de carimbo, a partir do final de 1944, a censura postal alemã se tornou responsabilidade das SS. Em consequência, essa marca postal sofreu uma pequena alteração: o nome Oberkommando der Wehrmacht foi trocado por Zensurstelle (Escritório de Censura, em uma tradução livre para o português) [5].

2. Carimbos circulares aplicados com tintas em tons de vermelho ou rosa, além de preto, sobre correspondências que não foram abertas pelos censores, cuja composição era formada pela letra "A" maiúscula seguida por uma letra minúscula que indicava o escritório de censura pelo qual a correspondência passou. A letra "A" significava Auslands-Briefprüfstelle (Escritório de Exame de Cartas Estrangeiras, em uma tradução livre para o português) [6] (figura 2).


Figura 2: exemplo de carimbo de censura "tipo sigla" aplicado sobre um envelope circulado entre as cidades de Lorch (Alemanha) e Madrid (Espanha), em 1944. O carimbo "A.d." indica que esta carta passou pelo Escritório de Exame de Cartas Estrangeiras localizado na cidade de Munique, Alemanha. Coleção do autor.

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O processo de censura postal na Alemanha foi dinamizado com a introdução de carimbos aplicados mecanicamente. Como nos carimbos manuais, também existiram diversos tipos, que eram impressos com desenhos, escritos e cores diferentes, cuja listagem, descrição e análise serão feitas na próxima postagem desta série.

Notas:

[1] - QUEIROZ, R. G. (1984) - O que é Filatelia. Brasiliense. São Paulo, p. 58.
[2] - Ibidem,  p. 59.
[3] - SALDANHA, G. (1981) - Tudo sobre selos. Ediouro. Rio de Janeiro, p. 41.
[4] - THE GERMAN postal system and nazi propaganda. s.n.t., p. 8-9.
[5] - Ibidem, p. 9.

domingo, 16 de agosto de 2020

Outros colecionismos: os recordatórios, parte 1.

A Filatelia foi a minha porta de entrada para outros colecionismos, especialmente de itens ligados à  Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945).

Além de selos e demais documentos postais relacionados ao conflito, eu também coleciono cartões postais, cédulas e moedas militares, fotografias, periódicos e recordatórios. 

Aliás, foi através das fotografias que coleciono, que surgiu o projeto que resultou na minha Tese de Doutorado em Comunicação e Cultura, que defendi no começo deste ano (2020) na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro - ECO/UFRJ.

Os recordatórios.

Observe atentamente a imagem a seguir:

Figura 1: frente de um recordatório. Coleção do autor.

Legal, né? Você já conhecia esse tipo de impresso?

Trata-se da frente do recordatório do Cabo Josef Bleitzhofer, que serviu em um Regimento de Artilharia da força terrestre alemã, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele nasceu em 12 de fevereiro de 1910 e morreu lutando na Frente Oriental (Rússia), em 3 de fevereiro de 1944, próximo do seu aniversário de 34 anos de idade.

Mas, o que é um recordatório?

O recordatório é uma forma impresso acerca de alguém que faleceu. Ele faz parte das tradições católicas alusivas à morte e à salvação da alma de quem morreu. Quando  uma pessoa morre, é costume a família enlutada oferecer uma espécie de recordação do falecido após seu sepultamento ou sua missa fúnebre. Também é comum enviar em resposta à uma carta de condolências recebida.

Do ponto de vista católico, o recordatório é uma forma dos vivos contribuírem com a expiação dos pecados, da passagem pelo Purgatório e, finalmente, pela salvação da alma de uma pessoa morta.

A importância de recordar.

"Como regra, os recordatórios recebidos são colocados no livro de orações para que os mortos sejam sempre lembrados e uma oração especial seja dedicada a eles quando vai à Igreja" [1].

Afinal, como ensina o historiador francês Jacques Le Goff, a memória e a história são fundamentais no Judaísmo e no Cristianismo, as chamadas religiões de recordação. Para o Cristianismo, o ensino é memória e o culto é recordação [2].

Ainda em Le Goff, na Cristandade, o templo é um lugar de memória, dentro do qual ocorrem diversos rituais de recordação [3], sendo os recordatórios um dos seus meios.

Notas:

[1] - http://wiki-de.genealogy.net/Totenzettel.

[2] - LE GOFF, J. (1996) - História e memória. Editora UNICAMP. Campinas, p. 443.

[3] - Ibidem, p. 449.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Síntese histórica e filatélica sobre a censura postal na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, parte 2.

Sem mais delongas, vamos direito ao assunto e dar sequência ao resumo histórico e filatélico da prática da censura postal na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial.

Uma censura rigorosa.

A prática da censura postal na Alemanha foi criteriosa, apesar de, quantitativamente, ser realizada por meio de amostragem, conforme foi mencionado na postagem anterior. Foram alvos da censura correspondência remetidas ou destinadas à Alemanha, assim como correspondências que tiveram trânsito pelo território alemão [1].

A figura a seguir, é um exemplo de censura realizada em uma correspondência em trânsito pela Alemanha. Trata-se, de um bilhete postal circulado entre as cidades de Zurique (Suíça, 17/V/1943) e Londres (Grã-Bretanha - sem data de chegada registrada).

Figura 1: frente do bilhete postal com destaque para os carimbos de censura e censor. Coleção do autor.

O bilhete postal foi transportado pelo serviço de correio aéreo. É certo que o avião que transportava a mala postal em que "viajava" o bilhete fez uma escala em Berlim, onde suas correspondências foram interceptadas e verificadas pelo Escritório de Censura localizado na capital alemã, conforme revela a letra "b" presente no carimbo de censura alemão aplicado sobre o próprio bilhete.

Se isso não bastasse, em Londres, o bilhete postal sofreu uma nova verificação, desta vez, pelo serviço de censura postal britânico, como é possível confirmar por meio do carimbo de censor aplicado próximo ao selo postal fixado sobre o canto superior direito do bilhete.

Contudo, não sabemos se isso ocorreu na Alemanha ou na Grã-Bretanha, mas aquela "mancha" azul que aparece no canto esquerdo do bilhete postal foi um contrastante que foi passado para descobrir se havia alguma mensagem secreta, redigida com "tinta simpática", ou seja, uma tinta invisível.

Para a sorte da "querida" senhora Heldmann, destinatária, que na época morava em algum lugar do bairro londrino de Bridge Lane, o bilhete postal foi liberado pelos dois serviços de censura postal.

Mas, quais eram as razões para uma correspondência não ser aprovada pelos censores e ser devolvida ao remetente?

Uma lista de razões.

As correspondências que não eram aprovadas pelos censores eram devolvidas ao remetente, "zurück". Dentro do envelope cujo conteúdo foi reprovado, ia uma ficha com uma lista de itens, sendo um (ou mais) marcado pelo censor e que servia de justificativa para o retorno da correspondência ao remetente [2].

Poderiam ser devolvidas ao remetente correspondências escritas em idiomas artificiais ou secretos; em hebraico ou iídiche; com enigmas ou jogos, como por exemplo, caça-palavras. O rigor dos censores nas correspondências dos Campos de Concentração e dos Guetos era maior, sendo obrigatório o uso escrito da língua alemã tanto para as correspondências remetidas quanto para as correspondências recebidas [3].

Notas:

[2] - Ibidem.
[3] - Ibidem.

domingo, 2 de agosto de 2020

Síntese histórica e filatélica sobre a censura postal na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, parte 1.

A prática da censura postal é um aspecto recorrente na história de diversos países, entre os quais o Brasil. Conforme o estudo realizado por Jürgen Meiffert, o controle exercido por autoridades públicas civis e militares sobre os conteúdos circulados através das comunicações postais no Brasil ocorreu sistematicamente de 1917 a 1972 e teve como pano de fundos os diversos conflitos políticos e militares que afetaram Estado brasileiro ao longo do século XX [1].

É comum associar a censura postal aos regimes políticos autoritários ou mesmo "totalitários", a exemplo dos fascismos históricos na Europa ou das ditaduras de caráter personalista na América Latina, tais como o Estado Novo brasileiro (1937 - 1945).

Contudo, para a História Militar, a censura postal foi um instrumento importante na luta contra a espionagem em tempo de guerra, uma vez que, através das comunicações postais, informações de importância tática ou estratégica para o inimigo poderiam ser coletadas e/ou enviadas.

A Segunda Guerra Mundial.

A Segunda Guerra Mundial foi um conflito militar internacional que ocorreu entre 1939 e 1945. Ela foi protagonizada por duas coalizões de países: os Aliados, liderados pelos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e União Soviética; o Eixo, cujos líderes foram a Alemanha, Itália e Japão. A Segunda Guerra Mundial teve um caráter de guerra total, que envolveu praticamente a totalidade dos recursos humanos e materiais dos países beligerantes envolvidos, que lutaram em operações militares nos oceanos e em diversos teatros de operações localizados na África, Ásia e Europa [2].

Todos os países que se envolveram com a Segunda Guerra Mundial, sejam eles democracias ou ditaduras, praticaram a censura em correspondências civis e militares [3].

A censura postal na Alemanha.

Nos contextos do regime nacional-socialista (1933 - 1945) e da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), a prática da censura postal militar ocorreu entre 1940 e 1945, sendo instituída oficialmente entre abril e maio de 1940 [4].

A censura postal alemã teve duas "naturezas": civil, ligada ao serviço aduaneiro do governo alemão, cujo início ocorreu antes do desencadeamento da Segunda Guerra Mundial; militar, subordinada ao Estado-Maior das Forças Armadas (Oberkommando der Wehrmacht) [5].

A figura a seguir, exibe o detalhe do verso de um envelope circulado entre as cidades de Munique (Alemanha, 13/IV/1937) e Fort Washington, nos Estados Unidos, com trânsito por Bremen (Alemanha, 14/IV/1937) onde seu conteúdo foi verificado pela censura postal da Aduana alemã, fato este evidenciado pela fita de lacre usada pelo censor após a conclusão da sua inspeção.

Figura 1: detalhe do verso de um envelope censurado pela Aduana alemã em 1937. Coleção do autor.

Já na figura seguinte, o detalhe de uma fita de lacre usada após a censura em um envelope alemão de 1943, realizada por um censor militar alemão, cujo número "28?" aparece parcialmente sob a fita. A letra "e" que aparece tanto na fita quanto o carimbo de censura revela que a operação foi realizada no escritório de censura localizado na cidade de Frankfurt, Alemanha [6].

Figura 2: detalhe da fita de lacre de um envelope alemão de 1943 que sofreu censura postal militar. Coleção do autor.

A censura postal alemã durante a Segunda Guerra Mundial monitorou o trânsito de correspondências entre a Alemanha e países neutros, a exemplo do Brasil até o início de 1942, quando as relações diplomáticas entre eles foi rompida. A verificação dos conteúdos foi rigorosa, embora realizada por amostragem [7].

Mas, quais eram os tipos de conteúdos vetados pela censura postal alemã? Quais assuntos eram censurados, sendo suas cartas devolvidas aos seus respectivos remetentes?

As respostas à essas perguntas serão discutidas na parte 2 desta série.

AGUARDE...

Notas:

[1] - MEIFFERT, J. (2012) - Zensurpost in Brasilien. 2. ed. Arbeitsgemeinschaft BRASILIEN e.V. im BDPh e. V. Lohmar.
[2] - Para uma síntese recente sobre a Segunda Guerra Mundial: BEEVOR, A. (2015) - A Segunda Guerra Mundial. Record. Rio de Janeiro.
[3] - Conforme pode ser constatado através da página Censored and Military Postal History.
[5] - Ibidem.
[6] - Ibidem.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Memória da Associação Filatélica de Joinville - AFJ.

A Associação Filatélica de Joinville - AFJ foi fundada em 13 de abril de 1945. Durante décadas, ela foi um espaço de difusão da filatelia em Joinville e mesmo em Santa Catarina, através dos seus encontros, das suas exposições e reuniões ordinárias.

Eu frequentei o clube durante a década de 1990, quando adolescente. Lá, por meio de mestres como o saudoso Wolfgang H. Kohls, tornei-me filatelistas e iniciei coleções de países e temas, muitos dos quais coleciono até hoje.

Infelizmente, ela não está mais ativa. O patrimônio documental da AFJ está disperso entre seus antigos sócios, entre os quais, eu. Tão importante quanto a filatelia ser retomada em Joinville por novos e antigos colecionadores, é a preservação e a divulgação da história da AFJ.

Portanto, se você que está lendo esta postagem possuir alguma fotografia ou documento relacionado à memória e à história da Associação Filatélica de Joinville, peço um pequeno favor: entre em contato comigo através do e-mail wilhist@gmail.com.

Eu gostaria muito de obter uma cópia do seu documento e publicá-lá aqui no blog.

Jovens filatelistas.

A imagem a seguir é a reprodução de uma fotografia em que foi retratado um grupo de jovens colecionadores e três filatelistas que fazem parte da história da AFJ e da filatelia em Joinville: da esquerda para a direita, Mário Schwochow, Norberto Colin e Oscar Piske.

Coleção do autor.

O retrato original data de 1968 e sobre o seu verso, foi datilografado o seguinte registro: "Reuniões aos Sábados, para jovens filatelistas. Aulas sobre Filatelia, a arte de colecionar selos. Professores: Mário Schwochow, Norberto Colin e Oscar Piske. Joinville, 1968".

Não foi possível identificar os jovens fotografados.

sábado, 25 de julho de 2020

Flâmulas.

A prática da Filatelia não envolve somente os selos postais. Além deles, as marcas postais, os "carimbos", também são objetos de catalogação, estudos e coleção pelos filatelistas.

Há diversos tipos de marcas postais, inclusive, anteriores ao surgimento do selo postal, em 1840.

As flâmulas são um tipo de marca postal. Suas origens estão relacionadas à introdução das máquinas de franquia mecânica, durante o começo do século XX [1].

Figura 1: envelope circulado entre as cidades de Hamburgo (Alemanha, 27/09/1946) e São Paulo. Obliteração mecânica acompanhada por uma flâmula de propaganda do governo alemão da época: "Votar é obrigatório!". Coleção do autor.

Sérgio Marques da Silva define as flâmulas como "impressões mecânicas usadas para propaganda turística, campanhas diversas e até comerciais e toda e qualquer campanha para promoção através de franquia mecânica" [2], definição essa ilustrada pela figura 1.

Flâmulas e filatelia temática.

"Em virtude [...] das ilustrações e legendas especiais [...], a flâmula passou a ser buscada com frequência pelos colecionadores", revela Raymundo Galvão de Queiroz [3]. Para ele, as flâmulas são "peças magníficas, com grande poder de ilustração" [4].

Devido às suas características, as flâmulas são itens significativos para coleções temáticas e mesmo de história postal.

Notas:

[1] - QUEIROZ, R. G. (1984) - O que é Filatelia. Brasiliense. São Paulo, p. 61.
[2] - SILVA, S. M. (1995) - Selos postais do mundo. João Scotecci Editora, São Paulo, p. 87.
[3] - QUEIROZ, R. G. op. cit., p. 61.
[4] - Ibidem, idem, p. 61.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Envelope circulado pelo Serviço Postal da Força Expedicionária Brasileira - SPFEB.

Envelope circulado entre o endereço postal 269 (Itália, 09/02/1945) e a cidade do Rio de Janeiro - DF. Trânsitos pelo Correio Regulador (Livorno, Itália, 15/02/1945) e pelo Correio Coletor Sul (Rio de Janeiro - DF, 27/02/1945). Carimbo de censor número "8". Carta simples e isenta de selo postal (figura 1).

Figura 1: frente do envelope destinado à Sra. Francisca Molizani. Coleção do autor.

O endereço postal FEB 269 corresponde ao I Grupo do 1. Regimento de Artilharia Pesada Curta da Força Expedicionária Brasileira - FEB.

O remetente, Sd Jarbas SALOMÃO seguiu para a Itália no 3. Escalão da FEB, em 22/09/1944. Desembarcou em Nápoles em 06/10/1944. Retornou ao Brasil no 2. Escalão, entre 16 e 22/08/1945.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Você sabe as diferenças entre um selo postal e uma "cinderela"?

Uma "cinderela" e um selo postal são estampilhas autoadesivas que são fixadas em envelopes e demais tipos de correspondências postais, como por exemplo, um aerograma.

Contudo, não são a mesma coisa e costumam confundir leigos e mesmo filatelistas iniciantes.

Figura 1: exemplos de cinderelas de propaganda de guerra. Coleção do autor.

Um selo postal é, basicamente, uma etiqueta impressa com um determinado valor monetário emitida por uma autoridade postal com o objetivo de comprovar o pagamento de uma franquia postal por uma pessoa física ou jurídica.

Já as cinderelas não têm valor postal. Não são emitidas oficialmente por uma autoridade postal, como os Correios. Elas são impressas por particulares com objetivos propagandísticos e podem ser fixadas sobre envelopes e demais formas de correspondências.

Em muitos casos, as cinderelas fixadas sobre um envelope podem ser "amarradas" através da aplicação de um carimbo datador/obliterador pelo agente postal (figura 2). Esse tipo de marca postal ajuda na avaliação da autenticidade de uma cinderela fixada sobre um envelope e sua localização no tempo e no espaço.

Figura 2: verso de um envelope circulado entre as cidades de Mumbai e Victoria, 1941. Coleção do autor.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), foram impressas inúmeras cinderelas pelos países beligerantes, entre os quais o Brasil (figura 3).

Figura 3: quadra de cinderelas pró-Polônia no Brasil. Coleção do autor.

Contudo, não existe no Brasil um catálogo sobre esse tipo de material de propaganda, que costuma aparecer aqui e acolá, em leilões, lojas de antiguidades e mercados de pulgas.

A ausência de catalogação e cotação sistemática, além da proibição do uso de cinderelas em exposições filatélicas oficiais, tornam difícil o estabelecimento de preços desse tipo de material no mercado, cujo valor varia conforme a lábia de quem vende ou de quem compra >:(

Apesar desses problemas, as cinderelas são estampilhas interessantíssimas, sendo fontes históricas muito legais para estudos de temas diversos, tais como a propaganda de guerra. Ou, em pesquisas sobre Iconografia e Cultura Visual.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Você já ouviu falar em Saarland?

Veja a figura a seguir:

Coleção do autor.

Trata-se da frente de um envelope circulado entre as cidades de Spiesen-Elversberg (Alemanha, 15/06/1959) e Porto Alegre (Brasil, 18/06/1959), transportado pelo serviço de correio aéreo, conforme indica o carimbo de chegada aplicado sobre o seu verso.

Se você observar atentamente os selos postais fixados sobre o envelope, constatará duas coisas: 1) junto com o nome Deutsche Bundespost há a palavra "Saarland"; 2) O Franco (Fr.), ao invés do Marco (M), como moeda usada nos respectivos valores faciais dos selos.

Saarland

O território que compõe o Sarre, nome com o qual o Saarland é conhecido em português, está localizado no sudeste da Alemanha, sendo um dos dezesseis Estados que formam a República Federal da Alemanha, chamados de Bundesländer.

A história do Sarre remonta aos períodos antigo e medieval. Contudo, para a filatelia alemã, interessa o recorte temporal situado entre o final do século XVIII e 1957. Pois, ao longo desse período, a posse do Sarre foi disputada entre alemães e franceses.

Em se tratando de história postal alemã, a trajetória desse território é periodizada em Saargebiet (Área do Sarre) e Saarland (1920 - 1935); Saarland (1947 - 1956); Oberpostdirektion - OPD Saarbrücken (1957 - 1959) [1].

Na época em que o envelope que faz parte desta postagem foi enviado a Porto Alegre, o Sarre estava sendo integrado à Alemanha como um dos seus Estados, após um período de dez anos como Protetorado francês, criado após o término da Segunda Guerra Mundial na Europa.

A união com a Alemanha foi referendada pelos habitantes do Sarre em 1. de janeiro de 1957. Atualmente, a população do Sarre é estimada em um milhão e dezoito mil habitantes, governados por Tobias Hans. Sua capital é a cidade de Saarbrücken.

Nota:

MICHEL (2000) - Deutschland-Katalog 2000/2001. Schwaneberger Verlag GMBH. Munique, p. 169 - 188.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Notas para uma história da Filatelia.

Filatelia é o nome dado à prática de colecionar e estudar selos e demais documentos ligados à história das comunicações postais.  Essa é a minha definição.

Contudo, há outras definições possíveis para esse tipo de colecionismo. Em seu Manual de Filatelia, Pereira e César, por exemplo, compreendem a Filatelia como "a arte, a ciência, a mania de colecionar selos postais e peças que tenham relacionamento com o franqueamento postal (peças filatélicas)" [1].

Não existe uma definição oficial de Filatelia e, aqui entre nós, os filatelistas não ligam muito para isso. Porém, existe algo que é recorrente em todas as definições de Filatelia que até hoje eu li: a relação entre colecionar selos postais e a cultura geral.

Costumo dizer que a Filatelia é um convite ao estudo. Pois, na medida que o filatelista se envolve com os seus selos, ele sente a necessidade de adquirir, cada vez mais, conteúdos e saberes relacionados com o país ou o tema que coleciona.

Mas, quando tudo isso começou? A maioria dos filatelistas domina com maestria os inúmeros aspectos do colecionismo filatélico. Conseguem, por exemplo, traçar os caminhos pelos quais uma correspondência do século XVI percorreu até chegar ao seu destino.

Contudo, o que sabemos sobre a história da Filatelia?

Tal como as demais atividades humanas, a prática do colecionismo filatélico tem historicidade que possui uma expressão material, a exemplo, os objetos que ela envolve, e outra imaterial, que corresponde aos conhecimentos, às técnicas e mesmo os reflexos coletivos e individuais que ser filatelista produz.

Ao responder por que e para que estudamos história, o professor Caio Boschi respondeu, entre outras coisas, que estudamos o passado através da História para "proporcionar aos homens viverem melhor o seu presente" [2]. Vou ao encontro dessas palavras e digo mais: em parte, estudamos história para compreendermos quem nós somos.

Logo, além da preservação de todo um patrimônio histórico, uma história da Filatelia contribui para compreendermos as origens e as transformações da nossa própria prática, tantos nos seus aspectos materiais quanto imateriais.

Então, que tal sabermos mais sobre essa história?

Notas:

[1] - PEREIRA, A. C.; CÉSAR, C. D. Manual de Filatelia. s.n.t., p. 1.
[2] - BOSCHI, Caio. História: por que e para quê? Nossa história, Rio de Janeiro, v. 1, n. 11, p. 98, set. 2004.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Selos sobre discos voadores?

Observe a imagem a seguir:

Figura 1: sextilha de cinderelas alusivas aos supostos discos voadores alemães da época da Segunda Guerra Mundial. Fonte: Filatelia Ananias, Facebook.

De vez em quando, essa imagem aparece em blogues ou em redes sociais dedicados à Filatelia. A respeito dela, há muitas informações desencontradas, imprecisas e mesmo falsas. Teriam os responsáveis pelas emissões postais dos Correios da Alemanha, durante o regime nacional-socialista e a Segunda Guerra Mundial, pensado em lançar uma série comemorativa sobre "discos voadores"? Ou, tudo isso não passa de uma brincadeira que alimenta décadas de especulações sobre um suposto desenvolvimento de discos voadores pelo cientistas alemães?

Foge ao escopo desta postagem abordar as temáticas dos programas de armas secretas alemãs da Segunda Guerra Mundial e da vida extraterrestre, embora boas informações sobre esses assuntos podem ser coletadas nos trabalhos de Brian Ford [1] e Marcelo Gleiser [2].

Apesar de bonitinha e divertida, essa sextilha não tem relação alguma com as emissões regulares, comemorativas e oficiais dos Correios alemães da época do Terceiro Reich. Não há referência alguma nos catálogos Michel a seu respeito, assim como nos catálogos universais Yvert e Scott.

Embora a fonte usada na impressão de Deutsches Reich, nome oficial da Alemanha entre 1871 e 1945, seja semelhante às fontes usadas em emissões comemorativas alemãs lançadas entre 1940 e 1945, a exemplo da série alusiva ao Dia das Forças Armadas  de 1943 (Mi., 831-842), nunca foram emitidos selos de 9 e 16 centavos de Marcos. Além disso, há incoerência entre os valores faciais dos supostos selos e suas respectivas cores com as quais foram impressos.

Mas, então... o que essas imagens representam?

Até a publicação desta postagem, o autor não conseguiu a apurar com precisão irrefutável as origens desse material. É certo que não são mais que figurinhas ou, na melhor das hipóteses, de "cinderelas", isto é, estampilhas produzidas por particulares para atender determinado objetivo propagandístico. Elas também são chamadas de "vinhetas" e não possuem valor postal algum, apesar de colecionáveis.

Quem seria o autor dessas "cinderelas"?

Em algumas referências a respeito delas encontradas em blogues e grupos de redes sociais, a autoria é atribuída ao ufólogo americano Jim Nichols. Já em outras, a divulgação dessas figurinhas está ligada à uma revista de Ufologia dos Estados Unidos. Contudo, tudo muito vago, sendo difícil checar os fatos [3].

Enfim, certamente não se tratam de selos postais ou qualquer outro material relacionado ao projeto de um selo postal - esboço, ensaio ou prova. Não constam em catálogos e muito menos são reconhecidos pelas entidades filatélicas alemãs.

Mas, sim, são muito legais e alimentam o imaginário social sobre discos voadores, OVINIS e... "aliens"!!!

Nada mais que isso.

Notas:

[1] - FORD, B. (1973) - Armas secretas alemãs. Renes. Rio de Janeiro.
[2] - GLEISER, M. (2006) - Poeira das estrelas. Globo. Rio de Janeiro.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Vitória dos Aliados!

A vitória aliada na Europa, em maio de 1945, foi celebrada pelo então Departamento de Correios e Telégrados - DCT com duas emissões comemorativas lançadas em 8 de maio e 17 de julho de 1945 [1].

Sobre o envelope que faz parte desta postagem foram fixados os cinco valores que formam a série lançada em 8 de maio, denominada "Vitória dos Aliados" [2].

Figura 1: frente do envelope. Coleção do autor.

Foram aplicados sobre esses selos um carimbo comemorativo (CBC) e uma obliteração mecânica acompanhada por uma flâmula com a seguinte frase: "Glória aos povos que forjaram a vitória". Essa frase também aparece no CBC.

Ainda sobre o carimbo comemorativo, Rolf Harald Meyer explica que:

"Os correios determinaram o uso dos selos do Dia da Vitória quando deveria ser usado um carimbo especial nas seguintes cidades: Bahia [sic.], Belém, Belo Horizonte, Fortaleza, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Em poucas cidades foram usados os carimbos no dia 8; por determinação superior, essa data também foi carimbada ainda que posteriormente" [3].

Notas:

[1] - MEYER, P. (2013) - Catálogo de selos do Brasil 2013. 58. ed. Editora RHM Ltda. São Paulo, p. 353.
[2] - Ibidem, p. 353.
[3] - MEYER, R. H. (1985) - Catálogo de selos Brasil 85. 43. ed. Edição do autor. s.l., p. 172.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Selos semipostais?

O catálogo universal de selos Scott possui uma categoria que é um tanto estranha na filatelia brasileira: selos semipostais.

Tratam-se daquilo que nós chamamos de "sobretaxados". Isto é, um selo em que é cobrado um valor extra cujo destino é algum auxílio financeiro específico. No  Brasil, esse tipo de emissão não é muito recorrente, especialmente quando comparamos com outros países, tais como a Alemanha e a Suíça.

Legião Holandesa.

Em 1. de novembro de 1942, os Correios da Holanda emitiram dois blocos de selos postais destinados à coleta de fundos para a Legião Holandesa (Nederlandsch Legioen) engajada nas Waffen-SS.

Figura 1: Sct., Holanda, emissões semipostais 144 e 145. Coleção do autor.

De acordo com o historiador britânico John Keegan, 40 mil holandeses serviram como voluntários nas Waffen-SS, durante a Segunda Guerra Mundial [1].

Nota:

[1] - KEEGAN, J. (1973) - Waffen-SS. Renes. Rio de Janeiro, p. 96.

domingo, 21 de junho de 2020

De Braunschweig para Bad Harzburg, 1936.

Envelope circulado entre as cidades alemãs de Brunsvique (24/06/1936) e Bad Harzburg - sem data de chegada registrada.

Figura 1: frente do envelope. Coleção do autor.

Carta simples, cuja franquia foi paga com um par de selos postais sobretaxados de 6 centavos que pertencem à série comemorativa alusiva aos Jogos Olímpicos de Verão em Berlim (Mi., DR, 611). O valor facial total (que não considera as sobretaxas), 12 centavos, corresponde ao valor exato para cartas em trânsito de longa distância com até 20 gramas de peso vigente na época.

Ao lado esquerdo do carimbo datador, foi aplicada uma flâmula de propaganda, com a seguinte frase: "Vermeidet rundfunk störungen!", que em uma tradução livre para o português: "Evite interferências radiofônicas".

sábado, 20 de junho de 2020

Aniversário de 50 anos da Revolta Nacional Eslovaca (1944 - 1994).

Eslováquia é um país localizado no leste da Europa e que faz fronteiras com a República Tcheca, a Áustria, a Hungria, a Ucrânia e a Polônia. A capital da Eslováquia é a cidade de Bratislava, que minha esposa e eu tivemos o prazer de conhecer. Lembro da excelente cerveja que bebemos, da deliciosa comida que desfrutamos e dos automóveis da marca Skoda circulando pelas ruas da cidade. 

A Eslováquia está cercada por terras, sendo seu território pequeno, cuja área total é de 49.035 km2, sendo sua população estimada em 5.457.012 habitantes. Caramba! A população do Estado em que eu moro, Santa Catarina, é maior que a população eslovaca: 6 milhões e 727 mil habitantes aproximadamente.

A Revolta Nacional Eslovaca.

Próximo do início da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), a Eslováquia se separou da Checoslováquia, uma República fundada em 1918, como parte da reorganização política da Europa após o término da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918).

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Eslováquia foi um Protetorado alemão governado por Jozef Tiso (1887 - 1947), um sacerdote católico considerado colaboracionista.

Em 29 de agosto de 1944, foi iniciada uma rebelião militar contra Tiso, que ficou conhecida como a "Revolta Nacional Eslovaca", sendo seus líderes os Generais Rudolf Viest (1890 - 1945) e Ján Golian (1906 - 1945), cujos rostos ilustram a emissão comemorativa que faz parte desta postagem.

A revolta foi sufocada em 28 de outubro de 1944, sendo um importante capítulo da história da Eslováquia durante a Segunda Guerra Mundial.

Figura 1: Aniversário de 50 anos da Revolta Nacional Eslovaca. Coleção do autor.

Segundo o catálogo universal de selos Scott, em 01 de agosto de 1994, os Correios da Eslováquia lançaram uma emissão comemorativa ao aniversário de 50 anos da Revolta Nacional Eslovaca.

A série é formada por dois valores, impressos em talho-doce (calcografia), sendo ilustrada com imagens dos líderes da rebelião e referências às pessoas que pegaram em armas contra os alemães e o governo colaboracionista de Tiso.

No sistema Scott, esses dois valores são representados pelos números 189 e 190.