terça-feira, 15 de dezembro de 2015

As revoltas na Silésia.

A invasão alemã à Polônia, em 1. de setembro de 1939, é considerada o começo da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). Entretanto, os conflitos entre poloneses e alemães são anteriores à invasão e estão relacionados às demandas históricas na região e às transformações políticas sofridas no leste europeu, após o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918.

Entre 1919 e 1921, ocorreram, na região da Alta Silésia, três grandes revoltas contra o domínio alemão sobre a região, na esperança de torná-la independente para uni-lá à Polônia. As "Revoltas na Silésia", como são conhecidas em língua portuguesa, fazem parte da memória e da história polonesas, sendo motivos de orgulho nacional. Porém, durante o começo da Segunda Guerra Mundial, elas serviram de mote para inúmeras chacinas praticadas pelos Einsatzgruppen da SS na Polônia.

Segundo o historiador Christian Ingrao (2015, p. 182):

"[...] a campanha da Polônia não é uma simples retomada das hostilidades; os grupos decerto perseguem os veteranos amotinados de 1919 [1920 e 1921] na Silésia e na Posnânia, mas essa prática tem naturalmente uma dimensão utilitária. Reprimir os ex-ativistas poloneses do movimento de 1919 é prevenir a formação de movimentos nacionalistas de resistência clandestina, é matar na semente toda veleidade de retomada do Volkskampf pelos poloneses".

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Selo postal comemorativo emitido pelos correios da Polônia, em 1971 (Scott # 1808) em comemoração ao aniversário de 50 anos da terceira revolta na Silésia (50 Rocznica III Powstania Slaskiego).


Referência:

INGRAO, Christian. Crer & destruir: os intelectuais na máquina de guerra da SS nazista. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

sábado, 28 de novembro de 2015

Carte postale pour les Prisonniers de Guerre.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), os correios militares não transportaram somente correspondências de militares nas frentes de combate. A circulação de bilhetes e cartas de prisioneiros de guerra também fez parte dos serviços postais de campanha ao longo do conflito. Genericamente conhecidas como POW (Prisoner of War), as correspondências despachadas dos campos de prisioneiros são um aspecto significativo dos correios em tempo de guerra.

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Bilhete postal para prisioneiros de guerra (POW) circulado entre a cidade de Tashkent (Uzbequistão, 02/12/1915) e Ferenczhalom (Hungria - sem data de chegada registrada). Durante a Primeira Guerra Mundial, funcionou, nos arredores da cidade de Taskent, um grande campo de prisioneiros austríacos e alemães, capturados pelo Império Russo. Logo, é certo que o remetente deste bilhete estivesse prisioneiro neste campo. Na época, Tashkent fazia parte de um território conhecido como Turquestão Russo. Correspondência simples, isenta de selo postal e com dupla censura (russa e austríaca). A censura postal russa foi realizada na agência postal de Tashkent e foi confirmada através da aplicação de um carimbo manual oval roxo, com as seguintes informações: "Turkestan Local Military Censorship Commission", em uma tradução livre para o inglês. Já a censura postal austríaca, representada através de um carimbo triangular vermelho, foi realizada na cidade de  Viena, capital austríaca.

Figura 1: frente do bilhete postal. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

domingo, 22 de novembro de 2015

O Serviço Postal da Força Expedicionária Brasileira - FEB.

Força Expedicionária Brasileira - FEB foi uma força combatente terrestre criada em 1943, no contexto do envolvimento brasileiro com a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). Com um total de pouco mais de 25 mil homens, a FEB participou de operações militares na Itália, entre 1944 e 1945 (MAXIMIANO e BONALUME NETO, 2011).

O Serviço Postal da FEB foi criado em 29 de abril de 1944, através do Boletim do Exército número 18. Ele funcionou de maneira intensa até sua desativação, em 1945. Segundo o historiador Marcos Antonio Tavares da Costa (s.d.), foram enviadas da Itália pelos expedicionários mais de 1.400.000 correspondências, em uma média aproximada de 100 mil cartas despachadas por mês. Ainda neste autor, também existiram bilhetes postais com textos prontos para o uso de militares analfabetos.

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Envelope circulado entre a Companhia de Serviços do 1. Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira (FEB 304) e o Rio de Janeiro (Brasil). Carta simples, isenta de selo postal e circulada pelo Serviço Postal da FEB. Carimbos datadores aplicados em 16/04/1944 e 02/01/1945. Correspondência verificada e liberada pela censura postal da FEB. Curiosidade: o remetente, Soldado Walter Gomes Viana, embarcou para a Itália, em 22/09/1944. Porém, foi evacuado do teatro de operações, em 07/05/1945, conforme dados fornecidos pelo Arquivo Histórico do Exército - AhEx.

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Figura 2: verso do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Referências.

COSTA, M. A. T. A censura postal militar: a política do Estado Novo na correspondência de guerra da FEB. s.n.t.

MAXIMIANO, C. C.; BONALUME NETO, R. Brazilian Expeditionary Force in World War II. Oxford: Osprey Publishing, 2011.

sábado, 14 de novembro de 2015

De Lion para Varennes-en-Argonne.

A Filatelia foi a minha primeira "janela para o mundo". Através dos selos postais, aprendi geografia e história, conheci culturas e ensaiei as minhas primeiras frases em alemão e inglês. Saudações filatélicas aos colecionadores franceses e minha solidariedade à vocês pela violência que sofreram.

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Cartão postal circulado entre as cidades francesas de Lion (03/03/1925) e de Varennes-en-Argonne (04/03/1925). Correspondência simples, com franquia isolada de 15 Centavos de Francos, moeda corrente na França da época. Obliteração mecânica, com uma flâmula de propaganda a respeito da "Feira Internacional de Lion", realizada entre 2 e 15 de março. O cartão postal é ilustrado com uma fotografia acerca da própria "Feira de Lion" (Foire de Lyon), em que aparecem as fachadas dos seis primeiros pavilhões de exposições. Ele foi produzido pelo estúdio fotográfico Goutagny, em Lion.

Figura 1: frente do cartão postal. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Figura 2: verso do cartão postal. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.


sábado, 31 de outubro de 2015

De Lorch para Madrid.

O envelope que ilustra esta postagem é mais um exemplo dos diversos tipos de carimbos de censura postal que foram usados na Alemanha, entre 1939 e 1945. Trata-se, de um carimbo manual, com a sigla "Ad" (Auslandsprufstelle "d", em Munique, destinada à censura de correspondências circuladas entre a Alemanha, ItáliaEspanhaPortugal e Suíça).

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Envelope circulado entre as cidades de Lorch (Alemanha, 22/01/1944) e Madrid (Espanha, 27/01/1944, trânsito pela censura postal espanhola em 28/01/1944). Carta transportada pelo serviço de correio aéreo, com dupla-censura: primeira em Munique; segunda em Madrid).

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Figura 2: verso do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.


sábado, 24 de outubro de 2015

Deutsches Museum, Munique.

Durante a última semana, fui surpreendido por uma carta do amigo e filatelista Cláudio Dalmau Drago, de São Paulo (SP). Junto com um carinhoso bilhete, alguns cartões postais alemães do início do século passado. Postais produzidos a partir de desenhos com bico de pena, um mais legal que o outro. Porém, um chamou a minha atenção em especial: uma vista do Deutsches Museum, em Munique, na Alemanha.

O Deutsches Museum foi fundado em 1903, porém foi aberto ao público somente em 1906. Até meados da década de 1930, o museu sofreu diversas ampliações. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), seus prédios foram muito danificados, sendo reaberto somente a partir de 1948. Atualmente, o Deutsches Museum pode ser considerado um museu de ciência e tecnologia, com destaque para as Ciências Aplicadas e Naturais.

Figura 1: frente do cartão postal com uma vista do Deutsches Museum. sl, sn, sd. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

De Riga para Drebkau.

A ocupação militar alemã em diversos países da Europa Oriental, durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), também teve como reflexo alterações nos sistemas postais dos países ocupados. Entre outras coisas, novos tipo de marcas e selos postais foram produzidos para atender as necessidades decorrentes do contexto de ocupação militar. No caso do envelope que ilustra esta postagem, foram aproveitados selos regulares alemães, emitidos durante o começo da década de 1940, sendo aplicado neles uma sobre-estampa (Aufcruck) com o nome Ostland, que corresponde aos países bálticos sob ocupação militar alemã entre 1941 e 1945.

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Envelope circulado entre as cidades de Riga (Letônia, 21/05/1942) e Drebkau (Alemanha, 26/05/1942). Carta registrada e despachada pelo Correio Oficial dos Territórios do Leste, em Riga, conforme comprovam a etiqueta de registro (número 253 c) e os carimbos datadores/obliteradores aplicados sobre os quatro selos postais (Mi., D.B.1939/45 -  3, 11, 8 e 5), cujo valor facial total de 42 Centavos de Marcos corresponde aos portes do registro (30 Centavos) e de cartas em tráfego de longa distância com até 20 gramas de peso (12 Centavos). Correspondência interceptada e censurada na cidade de Königsberg (atual KaliningradoRússia), conforme revela a letra "a" impressa sobre a fita usada pelo censor para lacrar e liberar o envelope após a verificação do seu conteúdo.

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Figura 2: verso do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.



sábado, 19 de setembro de 2015

Manifestação da SA, SS, NSKK e NSFK na Luitpoldarena, em Nuremberg.

Arrisco afirmar que o Nacional-Socialismo foi o fenômeno político que mais soube articular o seu imaginário com as "massas" das quais dependia o seu poder. "Ninguém melhor que Hitler compreendeu os princípios básicos da persuasão em massa e nenhuma organização trabalhou mais nem despendeu mais material no aperfeiçoamento da técnica de sua aplicação do que o Partido Nazista", reforça Barrie Pitt (1978, p. 6).

Neste contexto, os grandes comícios e os demais eventos públicos promovidos pelo NSDAP para uma enorme audiência foram atividades fundamentais para o próprio movimento nacional-socialista, das suas origens durante a década de 1920 até o seu final amargo, em 1945. Os congressos anuais do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães foram os principais eventos públicos promovidos pelo NSDAP em seu calendário.

A primeira "reunião" foi realizada em 27 de janeiro de 1923, na cidade de Munique, no sul da Alemanha. A partir de 1927, os congressos passaram a ocorrer em Nuremberg, até sua última edição, em 5 de setembro de 1938. As reuniões anuais do NSDAP foram chamadas oficialmente de "Reichsparteitag", "Dia Nacional do Partido", em uma tradução livre para o português. O evento de 1938 foi o mais grandioso de todos (WIKES, 1978).

Figura 1: flâmula de propaganda alemã alusiva ao Reichsparteitag de 1938, último evento do gênero, cujo tema foi a "Grande Alemanha" (Grossdeutschlans). Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

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Vista panorâmica do Luitpoldarena, durante a realização de uma edição do Reichsparteitag, em Nuremberg. Nela foram retratados Adolf Hitler (1889 - 1945) e uma "manifestação" (appell) de integrantes das SA, SS, NSKK e NSFK, siglas estas que representam forças paramilitares pertencentes ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães - NSDAP. Embora as duas primeiras siglas sejam bem conhecidas entre o público, as duas últimas, NSKK e NSFK, não. Assim, respectivamente, elas significam: Nationalsozialistisches Kraftfahrkorps (Corpo Motorizado Nacional-Socialista) e Nationalsozialistisches Fliegerkorps (Corpo Aéreo Nacional-Socialista) (PIA, 1976). Ao fundo da imagem também aparece o "Salão de Honra" (Ehrenhalle), inaugurado em 1930. Comercializado no valor de 25 Centavos de Marcos, o equivalente ao porte para cartas simples com até 20 gramas de peso enviadas para o estrangeiro, esta vista panorâmica foi produzida pela editora Intra, de Nuremberg, e impressa pela Noris-Verlag G.m.b.H., também de Nuremberg. Pelo número "64" impresso no seu canto inferior direito, é certo que esta vista panorâmica fez parte de uma série, que foi comercializada durante o evento como uma das dezenas de suvenires oferecidos ao público que prestigiou o evento.

Figura 2: vista panorâmica do Luitpoldarena. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.


Figura 3: detalhe ampliado. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

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Em 1933, o Luitpoldarena sofreu uma ampliação e aumentou sua capacidade de público para 150 mil expectadores. Junto com o "Campo Zeppelin" (Zeppelinhalle) e outros espaços, o Luitpoldarena era parte de um complexo enorme destinado para receber milhares de alemães durante a semana de realização do Reichsparteitag que, embora seu nome fosse "Dia Nacional do Partido", ele tinha a duração de uma semana.

Figura 4: áreas de concentração e desfile em Nuremberg para as reuniões anuais do NSDAP. Fonte: Wikipédia.

Figura 5: vista parcial do que sobrou da tribuna do Zeppelinhalle, em Nuremberg. Foto: Wilson de Oliveira Neto.

Referências:

PIA, Jack. Insígnias nazistas. Rio de Janeiro: Renes, 1976 (História Ilustrada da 2a. Guerra Mundial: especial cores; v. 1).
PITT, Barrie. O cerimonial do poder. In: WIKES, Alan. As reuniões de Nuremberg: os triunfos de Hitler. Rio de Janeiro: Renes, 1978 (História Ilustrada do Século da Violência; v. 5).
WIKES, Alan. As reuniões de Nuremberg: os triunfos de Hitler. Rio de Janeiro: Renes, 1978 (História Ilustrada do Século da Violência; v. 5).

sábado, 12 de setembro de 2015

Festa de Tiro de Rei (Schuetzenfest).

Uma das marcas registradas das regiões de colonização alemã no sul do Brasil é a manutenção de práticas culturais centenárias, muitas das quais introduzidas pelos primeiros colonos de língua alemã assentados durante o século 19. As sociedades de atiradores (Schuetzen-Vereine) e suas tradicionais festas de tiro de rei (Schuetzenfest) são exemplos deste patrimônio cultural que influencia nas memórias e nas identidades destes lugares, que hoje abrigam cidades, tais como Blumenau, Jaraguá do Sul, Joinville e São Bento do Sul (OLIVEIRA NETO, 2012).

As origens das agremiações de atiradores estão situadas na Europa Ocidental medieval. Elas chegaram ao Brasil com os primeiros imigrantes alemães, durante a primeira metade dos oitocentos, como por exemplo, em Santa Catarina, conforme relatam Petry (1982) e Soares (2002). O ponto alto do calendário dos clubes de tiro, como também são conhecidos, é atingido durante a festa do Tiro de Rei. Nela, entre bailes e banquetes, há a prova de Tiro de Rei, cujo vencedor é aclamado "Rei do Tiro". O cartão postal que ilustra esta publicação é, certamente, um registro de uma destas celebrações, registrada pelo fotógrafo Fritz Hofmann, em JoinvilleSanta Catarina.

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Cartão postal não-circulado, produzido pelo atelier do fotógrafo Fritz Hofmann, em Joinville, Santa Catarina. Sine die. Provavelmente, trata-se do registro de uma celebração de Tiro de Rei, em que aparecem os atiradores de dois clubes de tiro (de Joinville?), diferenciados pelos uniformes que vestem e pelas bandeiras que ostentam. Destaque para o caráter miliciano das sociedades de atiradores que, entre os oitocentos e a primeira metade do século 20, usavam uniformes semelhantes aos uniformes militares da época.

Figura 1: frente do cartão postal. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Referências citadas:

OLIVEIRA NETO, W. O tiro e seus clubes em São Bento do Sul, Santa Catarina: origens, trajetórias e tradições de um patrimônio cultural. In: LAMAS, N. C.; MARMO, A. R. (orgs.). Investigações sobre arte, cultural educação e memória: coletânea. Joinville: UNIVILLE, 2012.
PETRY, S. M. V. Os clubes de caça e tiro na região de Blumenau: 1859 - 1981. Blumenau: Fundação Casa Dr. Blumenau, 1982.
SOARES, D. Folclore catarinense. Florianópolis: USFC, 2002.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Envelopes circulados japoneses com carimbos temáticos disponíveis para troca.

Prezados colecionadores.

A seguir, as imagens (frente e verso) de dois envelopes circulados japoneses com carimbos temáticos (ferrovias/locomotivas; Antártica) disponíveis para troca. Propostas através dos comentários.





sábado, 5 de setembro de 2015

De Porto Alegre para Zurique.

Durante uma guerra, todo o cuidado com a circulação de correspondência é pouco. Especialmente, durante um conflito militar tão amplo como a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). Nenhum país, mesmo sendo amigo ou neutro, estava imune ao controle de suas correspondências enviadas ou recebidas, através dos diversos serviços de censura postal que existiram tanto entre os Aliados quanto entre os países do Eixo.

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Envelope circulado entre as cidades de Porto Alegre (Brasil, 08/05/1943) e Zurique (Suíça - sem data de chegada registrada). Trânsito pela 5a. Seção da Diretoria Regional dos Correios no Rio Grande do Sul (10/05/1943) [1]. Carta simples, transportada pelo serviço de correio aéreo brasileiro, conforme comprovam os carimbos datadores/obliteradores aplicados sobre os três selos regulares fixados sobre o envelopes, pertencentes à série "Netinha". Correspondência interceptada, censurada e liberada pelos serviços de censura postal alemão (Auslandsprufstelle Paris, "x") e britânico.

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Figura 2: verso do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Nota:

[1] - Sobre as Diretorias Regionais e a presença da sua sigla nos carimbos datadores/obliteradores, ver: PETRUCCI, Victor Augusto. Carimbos postais brasileiros: período republicano, volume 1. Campinas: edição do autor, 2012.


sábado, 29 de agosto de 2015

Os desenhos das crianças do campo de concentração de Terezín.

O genocídio judeu, entre 1933 e 1945, é um dos fenômenos históricos mais marcantes do século 20. Resumidamente, ele consistiu na identificação, na reunião e no extermínio de, aproximadamente, seis milhões de judeus na Europa pelos nazistas e seus colaboradores existentes nos países ocupados durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). Os campos de concentração foram parte da estrutura construída para viabilizar o genocídio (CARNEIRO, 2002)

O Gueto/Campo de Terezín.

Terezín é o nome de um pequeno município localizado na República Checa, próximo à capital Praga (Praha, em checo). Ele surgiu a partir de uma fortaleza militar construída durante o século 18, no contexto do governo do imperador Habsburgo José II e das guerras entre o Império Habsburgo e o Reino da Prússia (CHLÁDKOVÁ, 2005).

Durante a Segunda Guerra Mundial, o território checo esteve sob ocupação militar alemã. O município de Terezín foi transformado em um gueto/campo de concentração, que funcionou entre os anos de 1941 e 1945, quando, no dia 10 de maio, foi libertado pelo Exército Vermelho, conforme registra Ludmila Chládková (2005).

A vida cotidiana em Terezín foi muito dura e precária. Ao longo da guerra, morreram cerca de trinta e cinco mil prisioneiros, entre os quais jovens e adultos, homens e mulheres. "The overall balance was shattering: including the dead from the evacuation transports in the end of the war, in Terezín died in all 35 000 prisoners" (CHLÁDKOVÁ, 2005, p. 24).

As crianças de Terezín.

Entre 1944 e 1945, milhares de crianças judias foram deportadas, junto com seus pais ou oriundas de orfanatos, para Terezín. No campo, apesar de todas as dificuldades e de toda a violência, as lideranças judaicas procuraram manter uma improvisada rotina de educação formal, através de espaços denominados "Heime". Cada Heim atendia de 20 a 30 crianças e jovens com até 14 anos de idade. Lá, eram ministradas ilegalmente aulas e demais atividades intelectuais, tais como leituras, debates e dramatizações teatrais. Chládková (2005) menciona até práticas esportivas.

Os cartões postais a seguir, foram produzidos a partir dos desenhos feitos por crianças judias prisioneiras em Terezín, durante suas atividades escolares no campo. A maioria dos autores dos desenhos foi morta no complexo de campos de exertmínio de Auschwitz, em 1944. Não é conhecido o número de total de desenhos produzidos pelas "crianças de Terezín". Porém, há preservado no Museu Judeu de Praga uma coleção de quatro mil desenhos que documentam, através do olhar da criança, o drama e a violência do Holocausto (CHILDREN'S DRAWINGS FROM THE TEREZIN CONCENTRATION CAMP, s.n.t.).

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Série de quinze cartões postais ilustrados com os desenhos produzidos em Terezín por crianças judias, nas escolas clandestinas. Destas, somente uma sobreviveu à guerra. As demais morreram em Auschwitz, ao longo do ano de 1944. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.


Referências.

CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Holocausto: crime contra a humanidade. São Paulo: Ática, 2002 (História em Movimento).
CHILDREN'S DRAWINGS FROM THE TEREZIN CONCENTRATION CAMP. s.n.t.
CHLÁDKOVÁ, Ludmila. The Terezin Ghetto. Terezín: s.n., 2005.

sábado, 8 de agosto de 2015

Propaganda anticomunista alemã.

Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) foi uma guerra entre potências. O historiador britânico Richard Overy (2014) afirma que, as potências que lideraram o Eixo (AlemanhaItália e Japão) firmaram um compromisso em mudar o sistema internacional vigente. Através da assinatura do Pacto Tripartite, em 27 de setembro de 1940, uma Nova Ordem deveria ser estabelecida na Europa, através da Alemanha e da Itália, e no Extremo Oriente, com o Japão.

Porém, a intenção de mudar o sistema político internacional da década de 1930 foi acompanhada de um forte política anticomunista, expressa, por exemplo, através da assinatura entre a Alemanha e o Japão do Pacto Anti-Komintern, em 25 de novembro de 1936. O anticomunismo foi parte do imaginário político do regime nacional-socialista. Conceitualmente, Comunismo e Nacional-Socialismo foram ideologias políticas completamente diferentes, tal como explicou o também historiador britânico Richard J. Evans (2010). Há na filatelia alemã, especialmente, da década de 1940, diversos exemplos de marcas e selos postais com forte caráter anticomunista, como por exemplo, o carimbo comemorativo que é o tema desta postagem.

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Envelope possivelmente circulado dentro da cidade de Berlim (Alemanha, 20/04/1943) - sem chegada registrada. Carta simples e com franquia isolada de 8 Centavos de Marcos (os 22 Centavos cobrados pelo selo são sobretaxa e não influenciavam no valor do porte pago pelo remetente), preço este pago para cartas com até 20 gramas, circuladas em "tráfego de curta distância". O selo postal fixado sobre o envelope (Mi. DR, 846) foi obliterado com um carimbo comemorativo de propaganda de guerra anticomunista, com destaque para a frase a seguir: "Unser Führer bannt den Bolschewismus". Durante o final de 1944, no contexto do avanço soviético sobre o território alemão e do colapso da própria Alemanha na Segunda Guerra Mundial, o imaginário político anticomunista foi reforçado entre civis e militares alemães, alimentado por uma forte máquina de propaganda, que nada mais fez que conduzir a Alemanha a um amargo fim (KERSHAW, 2015).

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Referências citadas.

EVANS, Richard J. A chegada do Terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2010.
KERSHAW, Ian. O fim do Terceiro Reich: A destruição da Alemanha de Hitler, 1944 - 1945. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
OVERY, Richard. A Alemanha firma suas posições: o teatro de guerra do Mediterrâneo e do norte da África. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2014 (Coleção Folha As Grandes Guerras Mundiais; v. 11).

sábado, 25 de julho de 2015

Do Feldpostnummer 12277 para Coburgo.

Em postagens anteriores, afirmei que há uma grande quantidade de suportes usados pelos militares alemães, durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), para a redação e o envio de suas correspondências. Publico nesta postagem mais um exemplo: um feldpostkarte circulado entre o feldpostnummer 12277 e a cidade de Coburgo (Alemanha), em 1942.

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Feldpostkarte circulado entre o feldpostnummer 12277 e a cidade de Coburgo (Alemanha), sem chegada registrada [1]. Correspondência simples, despachada de Bamberg (Alemanha, 22/06/1942), conforme indica o carimbo datador aplicado sobre o cartão. A isenção de selo postal e o carimbo da seção responsável pelo correio de campanha do feldpostnummer 12277 indicam a origem militar da correspondência.

Figura 1: verso do feldpostkarte. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

A frente do feldpostkarte é ilustrada com a reprodução de uma fotografia feita pelo fotógrafo Hans Retzläff, cujo título é "Kriegseinsatz des Reichsarbeitsdienstes", em que integrantes do Serviço de Trabalho do Reich (Reichsarbeitsdienst - RAD) estão a trabalhar em uma ponte ("Schwere arbeit beim brückenbau"). Este feldpostkarte faz parte de uma série emitida pelo próprio RAD (série 1, número 7), que tinha efetivos engajados em diversos trabalhos de infraestrutura nas frentes de combate, durante a Segunda Guerra Mundial.

Figura 2: frente do feldpostkarte. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

O RAD foi criado em 25 de junho de 1935 e dissolvido em 8 de maio de 1945, após a rendição incondicional da Alemanha e o fim da guerra na Europa. Em 1939, a organização contava com um total de 350 mil integrantes. Tal como qualquer outra entidade criada durante o regime nacional-socialista (1933 - 1945), o RAD possuiu características materiais e imateriais militares. Seus integrantes usavam uniformes e recebiam insígnias e medalhas, assim como suas unidades possuíam bandeiras e estandartes (PIA, 1976).

Figura 3: mulheres integrantes do RAD. Fonte: Jack Pia (1976).

Figura 4: membros do RAD durante uma cerimônia de juramento. Sine loco, sine die. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Figura 5: homens integrantes do RAD. Fonte: Jack Pia (1976).

Nota:

[1] - Inicialmente, o feldpostnummer 12277 pertenceu a 12a. Companhia do 465. Regimento de Infantaria, mobilizado em 1. de janeiro de 1940. Porém, entre 27 de janeiro e 14 de julho de 1942, este código foi o endereço postal de uma unidade do RAD (Abteilung 1/284).

Referências:

PIA, Jack. Insígnias nazistas. Rio de Janeiro: Renes, 1976 (História Ilustrada da 2a. Guerra Mundial: Especial Cores; v. 1).





domingo, 19 de julho de 2015

São Bento do Sul, vista parcial.

O local onde está situada a Igreja Matriz de São Bento do Sul, a Paróquia do Puríssimo Coração de Maria permite ao frequentador ou ao visitante uma vista muito bonita do centro histórico da cidade. Não é por acaso que inúmeros cartões postais já foram produzidos a partir deste lugar. Além de uma bela recordação de São Bento do Sul, estes postais são fontes históricas muito úteis, por exemplo, para observarmos as mudanças e as permanências no espaço urbano são-bentoano.

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Cartão postal não circulado, com uma vista parcial do Centro de São Bento do Sul. O autor da fotografia é o fotógrafo curitibano Eduardo Sallum. Já o cartão postal, foi produzido pela empresa Postal Cultural, também da cidade de Curitiba (PR). O artista também é autor das fotografias de, pelo menos, outros três cartões postais sobre São Bento do Sul, também produzidos pela Postal Cultural.

Inicialmente, o fotógrafo Eduardo Sallum foi colecionador de cartões postais. Junto com o colecionismo, também veio a produção de fotografias para cartões postais para a Gráfica Kugler, em Castro (PR). A partir da década de 1970, Sallum se tornou editor de cartões postais, através da marca Postal Cultural. Além de produzir centenas de cartões postais, com destaque para pequenas cidades, como por exemplo, São Bento do Sul, Eduardo Sallum foi pioneiro na produção de cartões postais promocionais, atendendo hotéis, restaurantes e demais empresas (DALTOZO, 2006).


Referência citada.

DALTOZO, José Carlos. Cartão postal, arte e magia. Presidente Prudente: Gráfica Cipola, 2006.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

De Olomouc para Olomouc.

Entre 1939 e 1945, o território da República Checa foi ocupado pelos alemães. O país, na época, parte da Checoslováquia, foi transformado e um Protetorado da Alemanha, conhecido como Protetorado da Boêmia e Morávia (Böhmen und Mähren). Ao longo de seis anos de ocupação militar, a Boêmia e Morávia foi administrada por quatro "protetores", entre os quais o odioso Reinhard Heydrich (1904 - 1942), o "carniceiro de Praga". O Protetorado da Boêmia e Morávia emitiu moedas e selos postais próprios. Entre 15 de julho de 1939 e 1. de fevereiro de 1945, foram emitidos 142 tipos de selos, entre emissões comemorativas e regulares.

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Envelope circulador dentro da cidade de Olomouc (República Checa, 20/08/1941 - 21/08/1941). Carta simples, com franquia isolada de 80 centavos de Coroas (Mi., Böhmen und Mähren 40), valor para correspondências em trânsito de curta distância. Sobre o selo postal fixado, foi aplicado um carimbo datador "V-Stempel", em cor vermelha.

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

domingo, 5 de julho de 2015

De Washington para São Paulo.

Tal como os demais países envolvidos com a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), os Estados Unidos investiram muito em propaganda de guerra. As mensagens publicitárias foram veiculadas através de diversos meios, como por exemplo, os selos postais. É o que ilustra esta postagem, que aborda um envelope de primeiro dia circulado entre os Estados Unidos e o Brasil, em 1942. Também conhecidos pela sigla FDC, do inglês "First Day Cover", os envelopes de primeiro dia surgiram durante o final da primeira metade do século passado, com o objeto de compor uma "peça" filatélica que celebra o primeiro dia de circulação de um selo postal comemorativo. Os FDCs podem ser oficiais ou particulares, isto é, emitidos pelos Correios ou produzidos por pessoas ou instituições, como por exemplo, os clubes filatélicos. Um envelope de primeiro dia é uma peça filatélica formada pelo selo postal fixado sobre um envelope, sobre os quais é aplicado um carimbo especial, conhecido como "carimbo de primeiro dia". Os carimbos de primeiro dia fazem parte de um ramo da Filatelia chamado Marcofilatelia (SALDANHA, 1981).

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FDC circulado entre as cidades de Washington (Estados Unidos, 04/07/1942) e de São Paulo (Brasil, 17/08/1942). Carta simples, com franquia isolada de 3 centavos de Dólar (Scott 905), valor este correspondente ao porte para cartas comuns com até uma onça de peso, circuladas entre os Estados Unidos e a América do Sul. Correspondência obliterada com um carimbo de primeiro dia, composto por um carimbo datador e uma flâmula com a inscrição "First Day Issue". Carta interceptada, verificada e liberada pelo serviço de censura postal civil dos Estados Unidos (censor número 7133), provavelmente transportada por navio para o Brasil.

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Referência citada:

SALDANHA, Gehisa. Filatelia: cultura, lazer, investimento. Rio de Janeiro: Ediouro, 1981.

sábado, 27 de junho de 2015

De Timisoara para São Paulo.

Mais um item obtido durante a Primeira Feira de Antiguidades, realizada em Joinville, no último dia 21 de junho. Trata-se, de um envelope circulado entre a Romênia e o Brasil, em 1941. Um envelope surradinho, porém cheio de história postal para contar, que ganhei do amigo Mario Viana, colecionador e comerciante de antiguidades em Jaraguá do SulSanta Catarina. É a ele que dedico esta postagem.

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Envelope circulado entre as cidades de Timisoara (Romênia, 03/11/1941) e São Paulo (Brasil, 01/12/1941). Trânsito por Lisboa (Portugal, 13/11/1941) e ? (Brasil, 29/11/1941). Carta registrada (Registro número 482, Timisoara) e transportada pelo serviço de correio aéreo. Franquias múltiplas, com destaque para uma sextilha, fixadas sobre o envelope comprovam o pagamento dos portes aéreo e do registro. Correspondência interceptada, verificada e liberada pelo serviço de censura postal da Romênia, na época uma Monarquia que, desde 1940, estava envolvida com os reflexos do início da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) no Leste Europeu. Daí, talvez a razão para a censura postal. Há sobre o canto inferior direito da frente do envelope duas marcas numéricas, "10114" e "110", esta última, claramente, um carimbo circular aplicado sobre o envelope, que, infelizmente, ainda não conseguimos identificar.

Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Figura 2: verso do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Joinville, vista parcial da cidade.

Foi realizada no último Domingo, dia 21 de junho, a Primeira Feira de Antiguidades e Colecionáveis, no Centro Turístico e Comercial Expoville, em JoinvilleSanta Catarina. O evento ocorreu entre 10 e 18 horas e reuniu dezenas de pessoas, entre colecionadores e curiosos. Foi um momento muito legal para bons negócios ou somente para uma boa conversa com os amigos. Minha esposa e eu prestigiamos a feira. Encontramos amigos, vimos e obtivemos ótimos itens, tais como o cartão postal que ilustra esta postagem.

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Cartão postal não-circulado, provavelmente, do início da década de 1970. O edifício Bonneville ainda não havia sido construído e ele foi inaugurado em 1974 [1]. A empresa responsável pela sua produção é a Di-Arte, localizada na cidade de Blumenau, também em Santa Catarina, conforme informa o verso do próprio cartão postal, cujo título é "Joinville, vista parcial da cidade". Infelizmente, o autor da fotografia não foi registrado no cartão postal. A fotografia que o ilustra foi tirada na margem leste do rio Cachoeira, provavelmente no começo da rua Albano Scmidt, em uma região elevada que, na época, permitiu uma boa imagem da cidade. Próximo ao rio, foram retratados os antigos depósitos que ficavam próximos ao Moinho Joinville e as instalações do antigo Mercado Municipal. Mais ao fundo da imagem, da esquerda para a direita, aparecem o Colégio dos Santos Anjos, a Catedral Diocesana, a chaminé da indústria Wetzel, a torre de observação do Corpo de Bombeiros Voluntários, o Clube Joinville, as belas palmeiras da Alameda Brüstlein e o edifício Manchester, o primeiro "arranha-céu" joinvilense.

Figura 1: frente do cartão postal. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.

Nota:
[1] - Informação fornecida pelo amigo e colega professor Nicácio T. Machado.