sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

De Pelotas para Porto Alegre: "censuraram minha carta tchê!"

Última postagem de 2013! Um ótimo ano, especialmente, para a filatelia que pratico. Para encerrar o ano, vou publicar mais um estudo sobre censura postal no Brasil, através de um envelope circulado entre as cidades de Pelotas e Porto Alegre, em 1932.
 
1. Descrição e análise.
 
Envelope circulado entre as cidades sul-rio-grandenses de Pelotas (26-27/08/1932) e Porto Alegre (27/08/1932). Carta simples, transportada pelo Serviço de Correio Aéreo, conforme comprovam os selos fixados sobre o envelope (RHM, A-19 e A-17) e as marcas postais aplicadas sobre o mesmo (figuras 1 e 2).
 
Figura 1: frente do envelope. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.
 
Figura 2: verso do envelope.
 
Em Pelotas, o envelope recebeu um carimbo de censura, provavelmente quando deu entrada nos Correios desta cidade. Trata-se de uma marca postal na cor roxa, com a palavra "CENSURADA", escrita em letras maiúsculas e sem moldura (figura 3). Segundo a catalogação feita por Meiffert (2012), foram encontradas outras correspondências enviadas para Pelotas - 01/09/1932, Curitiba para Pelotas e 21/09/1932, "Bahia" para Pelotas - , além de uma carta de 28/10/1930 sobre a qual também foi aplicado o mesmo carimbo de censura.
 
Figura 3: frente do envelope (detalhe).
 
Finalizando, resta explicar a razão que levou à censura deste envelope e dos outros dois mencionados por Jürgen Meiffert (2012), que circularam em épocas próximas à carta analisada nesta postagem. Durante meados de 1932, ocorreu no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, uma rebelião contra o governo provisório de Getúlio Vargas, conhecida como Revolução Constitucionalista. O Rio Grande do Sul foi um dos locais onde ocorreram conflitos militares e políticos decorrentes desse levante, conforme relatam Luís Fernando da Silva Laroque e Janaíne Trombini. Possivelmente, a prática da censura postal na cidade de Pelotas, assim como em outras cidades gaúchas no mesmo período, atendeu à necessidades de segurança típicas de uma época de conflitos militares e políticos que foi o começo da década de 1930 no Brasil.
 
2. Referências.
 
MEIFFERT, Jürgen. Zensurpost in Brasilien. Katalog der Zensur-und Prüferstempel, Verschlusszettel und Zensur-Beanstandugszettel (1917 - 1972). 2. ed. Lohmar: Arbeitsgemeinschaft BRASILIEN e.V. im BDPh e.V., 2012.
MEYER, Peter. Catálogo de Selos do Brasil 2013: completo de 1648 - 2012. 58. ed. São Paulo: Editora RHM Ltda., 2012.




terça-feira, 17 de dezembro de 2013

De Chemnitz para Chemnitz.

Esta postagem é a continuação da publicação dos envelopes circulados alemães obtidos junto à Neumann Filatelia, durante a visita do autor à Brasiliana 2013 (Rio de Janeiro, 19 - 25 de novembro). A seguir, a descrição e a análise de uma carta circulada dentro da cidade alemã de Chemnitz, em 1934.
 
1. Descrição e análise.
 
Envelope circulado dentro da cidade alemã de Chemnitz (07/08/1934) - sem data de chegada registrada. Chemnitz está localizada no Estado da Saxônia, no leste da Alemanha (figura 1). Possui aproximadamente 350 mil habitantes e, entre 1953 e 1990, chamou-se Karl-Marx-Stadt.
 
Figura 1: localização de Chemnitz (vermelho) no Estado da Saxônia. Fonte: Wikimedia Commons.
 
Carta simples (figura 2), sobre a qual foi fixado um par de selos postais de 6 Rpf. correspondente ao valor pago pelo remetente para correspondências de tráfego de longa distância (Fernverkehr) com até 20 gramas de peso. Ainda sobre os selos postais fixados, eles são segundo valor da série alusiva ao Colonialismo alemão (Kolonialfeier - Deutsche Kolonialforscher). A série foi lançada em 30 de junho de 1934, em quatro valores 3 Rpf., 6 Rpf., 12 Rpf. e 25 Rpf. Cada um desses valores corresponde ao valor de um tipo específico de tarifa postal vigente na época. Finalizando, os selos fixados sobre o envelope foram obliterados através de um sistema mecânico de obliteração.
 
Figura 2: frente do envelope. Coleção; Wilson de Oliveira Neto.
 
2. Referências.
 
_____. Deutschland-spezial-katalog 2002: Band 1. München: Schwaneberger Verlag, GMBH, 2001.
MICHEL. Deutschland-katalog 2000/2001.  München: Schwaneberger Verlag GMBH, 2000.




quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

De Blumenau para Joinville.

A prática da censura postal foi comum no Brasil entre 1917 e 1972. Recentemente, este aspecto da história das comunicações postais brasileiras passou a ser conhecido com maior profundidade, através da publicação da segunda edição do catálogo de Jürgen Meiffert, Zensurpost in Brasilien (2012). A obra foi revista e ampliada, aliás, muito ampliada quando comparada a primeira edição, publicada em 2001. Esta postagem pretende publicar os primeiros resultados obtidos em nossos estudos sobre a prática da censura postal no Brasil, durante o século 20, baseados na obra de Meiffert e dos trabalhados de pesquisa publicados pelo grupo de pesquisas sobre filatelia brasileira ArGe-Brasilien e.V., na Alemanha.
 
1. Descrição e análise do documento.
 
Cartão postal circulado entre as cidades catarinenses de Blumenau e Joinville (figuras 1 e 2). Correspondência simples, franqueada com dois selos postais regulares de 100 Réis cada, pertencentes à série “vovó” (MEYER, 2012). O valor total pago pelo remetente, 200 Réis, corresponde ao porte vigente na época para bilhetes postais simples circulados dentro do território brasileiro ou do Brasil para os países membros da União Postal Americana - UPA.
 
Figura 1: verso do cartão postal. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.
 
Figura 2: frente do cartão postal. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.
 
Sobre os selos fixados foi aplicado um carimbo de censura (figura 3), ao invés do carimbo obliterador com a data e o local em que o cartão postal foi despachado para o seu destino. Esse fato torna difícil estabelecer a data exata do envio do cartão em estudo. Porém, o remetente, um certo Mario Reu, ao escrever à sua prima, registrou a data de 27 de outubro de 1930. Em contrapartida, a chegada do cartão postal em Joinville foi registrada através de um “carimbo de chegada” que data de 3 de novembro de 1930 (figura 3).
 
Figura 3: detalhe ampliado do cartão postal em aparecem os carimbos de censura e de chegada ao destino, a cidade de Joinville (SC). Coleção: Wilson de Oliveira Neto.
 
Interessa neste estudo o carimbo de censura aplicado sobre o cartão. Segundo Jürgen Meiffert (2012), há dois conjuntos de marcas postais ligadas à prática da censura em correspondências no Brasil, entre 1917 e 1972: carimbos de censura; carimbos de censor / inspetor. O carimbo de censura aplicado no cartão postal tem formato retangular, com 5,1 centímetros de comprimento por 1,7 centímetros de largura. Dentro da moldura há a palavra censura, em letras garrafais. É possível que seja um carimbo feito em borracha, localmente, atendendo ao contexto de conflito político da época em que o cartão postal analisado foi enviado de Blumenau para Joinville [1].
 
Meiffert (2012) registra em seu catálogo o uso desse carimbo de censura no município de Joinville nos anos de 1936 e 1938. As características descritas pelo autor coincidem com as características observadas na marca postal em estudo. Isto é, carimbo retangular (rechteckstempel), dimensões (maβe) de 5.1 x 1,7 cm (exemplar analisado) / 53 x 18 mm (catálogo) e cor do carimbo em roxo (violett). Portanto, é possível se tratar da mesma marca postal usada nos anos de 1936 e 1938. Se for correto, há um dado novo que acrescenta uma nova localização temporal desse carimbo de censura dentro da catalogação feita por Jügen Meiffert, em seu Zensurpost in Brasilien (2012), em 1930.
 
Há uma questão em torno do cartão postal em estudo e do carimbo de censura aplicado sobre o mesmo que intriga o autor deste pequeno artigo: teria sido o cartão carimbado em Blumenau, quando do seu envio, ou em Joinville, quando da sua chegada? Meiffert (2012) situa o uso do carimbo em Joinville para os anos de 1936 e 1938. Porém, ele não menciona o critério usado para essa localização geográfica. Teria o autor encontrado uma correspondência circulada dentro do município de Joinville com esse carimbo de censura? Sugerimos aqui duas hipóteses: 1) o cartão postal foi carimbado em Blumenau, quando do seu envio, no lugar do carimbo obliterador; 2) o cartão postal foi carimbado em Joinville, quando da sua chegada, tendo em vista o forte envolvimento da cidade com a Revolução de 1930. A ausência do carimbo obliterador pode ser explicada por alguma confusão feita a agência de onde o cartão postal foi despachado, já que a Revolução de 1930 também atingiu o vale do rio Itajaí, em particular a cidade de Blumenau. Inclusive, esse é o tema do próprio cartão postal, conforme mostrou a figura 2.
 
2. Nota.
 
[1] - Trata-se da Revolução de 1930. Para maiores dados históricos sobre a Revolução de 1930 no Brasil e em Santa Catarina, recomenda-se a leitura, respectivamente, de Fausto (2003) e Côrrea (1983).
 
3. Referências citadas na postagem.
 
CORRÊA, Carlos Humberto. Um Estado entre duas Repúblicas: a Revolução de 30 e a política catarinense até 35. Florianópolis: UFSC; Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, 1984.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 11. ed. São Paulo: EDUSP, 2003 (Didática; v. 1).
MEIFFERT, Jürgen. Zensurpost in Brasilien: katalog der Zensur-und Prüferstempel, Verschlusszettel und Zensur-Beanstandungszettel. 1917 - 1972. 2. ed. Lohmar: Arbeitsgemeinschaft BRASILIEN e.V. im BDPh e.V., 2012.
MEYER, Peter. Catálogo de selos do Brasil 2013. Completo de 1648 - 2012. 58. ed. São Paulo: Editora RHM Ltda., 2012.





segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

De Gelenau para Auerbach.

Pretendo com esta postagem iniciar a publicação dos envelopes circulados obtidos junto à Neumann Filatelia, durante a visita que minha esposa e eu fizemos à Brasiliana, na tarde de Sábado, do dia 23 de novembro de 2013. Apesar do tempo ruim, conhecemos pessoalmente os amigos do fórum Selos do Brasil e vimos muitas coleções incríveis.
 
Envelope circulado dentro da Alemanha, entre as cidades de Gelenau (27/08/1934) e Auerbach - sem data de chegada registrada pelos Correios, embora o destinatário tenha registrado a entrada da carta (Eing / Eingegangen) em 28/08/1934. Correspondência simples, enviada como impresso (Drucksache) o que justifica o valor do porte pago pelo remetente, 3 Pf. para impressos com até 20 gramas de peso. Coleção: Wilson de Oliveira Neto.