A filatelia temática é hoje um dos campos mais promissores do colecionismo de selos postais. É possível "falar" sobre praticamente tudo através de selos e demais documentos relacionados à comunicação postal. Contudo, colecionar selos a partir de temas é algo recente, que ganhou fôlego durante a segunda metade do século passado. A postagem de hoje é parte dessa história, pois se trata de uma matéria sobre filatelia temática publicada nas Seleções do Reader's Digest, de dezembro de 1970.
Um mundo de selos.
Nôvo ângulo na Filatelia: a coleção de "temas".
William A. H. Birnie.
Os selos que aparecem nestas páginas são muito mais bonitos do que o que se vê acima. Mas êste selinho banal tem algo a seu favor: é o único sêlo que existe desta série de um centavo emitida pela Guiana Inglesa, e foi leiloado recentemente pela Galeria Robert A. Siegel de Nova York por 280.000 dólares. Foi o preço mais alto que já se pagou por um sêlo - e uma prova dramática de que o interêsse pelo venerável passatempo de colecionar selos continua em ascensão.
Os outros, que não são tão caros, são típicos da revolução estética do mundo dos selos que começou logo após a Segunda Guerra Mundial. No mundo inteiro, os países começaram a aproveitar os aperfeiçoamentos da impressão a côres para produzir uma galáxia de requintadas interpretações de tudo - de tordos a Rembrandts, de trens diesel a jogos de futebol.
Essas inovações não apenas melhoraram a aparência de milhões de cartas e cartões-postais, aceleraram as vocações turísticas e produziram novos rendimentos aos países emitentes; trouxeram também uma nova moda à coleção de selos, o mais popular entre os passatempos de coleção. Hoje os colecionadores, cada vez mais, preferem os "temas".
Não se procura o definitivo nem a raridade, nem o valor, como fazem os colecionadores tradicionais. Apenas escolhe-se um tema que interesse e em seguida colecionam-se todos os selos que se relacionam com o assunto. O ex-jogador de beisebol Ira Seebacher, por exemplo, está travando uma batalha divertida, porém difícil. O ramo dele é esportes, e existem atualmente 6.000 selos esportivos no mercado - com uma dezena ou mais de selos novos aparecendo cada semana. Uma colecionadora escolhe apenas selos que mostram barbas. Outra limita-se a galinhas.
Em 1949, Jerome Husak, então com 17 anos, colecionador pioneiro de "temas", fundou a Associação Americana de Temas (atualmente com 10.000 sócios em 90 países). A fim de ajudar os sócios a expandir suas especialidades, a associação preparou uma exaustiva classificação alfabética dos selos existentes em setores tão diversos como xadrez, óculos (em pessoas famosas), helicópteros, cogumelos, nus, santos e casamentos (nobres). Recentemente, numa pesquisa entre os sócios, a associação descobriu que os 10 mais populares dos 738 temas abrangidos eram, em ordem de preferência: espaço, arte, escotismo, flôres, mamíferos, navios, religião, Medicina ( e a Cruz Vermelha), pássaros e história americana (inclusive J. F. Kennedy).
"Ao tornar-se um colecionador de temas", diz David Lidman, colunista de filatelia do Times de Nova York, "a pessoa tem várias vantagens distintas. Pode colecionar a sua própria especialidade, um assunto que já conhece, mas quer saber mais a respeito; pode divertir-se arrumando sua coleção em álbuns com textos explanatórios que fornecem um fundo histórico, artístico e sôbre outros assuntos correlatos".
"E", acrescenta seu amigo Sylvester Colby, vendedor e leiloeiro: "isto pode ser feito com pouquíssimo dinheiro". Os preços da maioria dos selos de "temas" permanecem os mesmos da emissão. Há, exceções, é claro. Em 1961, a França emitiu quatro selos com pinturas de Braque, Cézanne, Matisse e La Fresnaye; originalmente custavam 60 centavos de dólar, e estão catalogadas por 15 dólares o conjunto. Um conjunto de 24 peixes tropicais, emitidos por Moçambique em 1952, por seis dólares e meio, agora é vendido por aproximadamente 100 dólares. O sêlo do 1.000 gol de Pelé, que custou 10 centavos de cruzeiro na emissão, já vale quatro dólares na Europa.
Tudo isto é divertido, mas está bem distante das coleções clássicas. Franklin D. Roosevelt sempre encontrou tempo para se ocupar com os seus selos, até mesmo levando-os para preencher os intervalos diplomáticos em Yalta e Casablanca. Quando morreu, sua coleção foi vendida em leilão por mais de 250.000 dólares. A coleção Josiah K. Lilly foi vendida em 1967 por mais de três milhões de dólares. Especialistas recusam-se até a tentar dar um valor às maiores coleções do mundo, aquelas do Museu Britânico, do Correio americano, do Instituto Smithsonian e da Família Real inglêsa (que, segundo consta, tem em sua coleção todos os selos emitidos pela Grã-Bretanha e suas colônias desde que o primeiro sêlo adesivo foi umedecido em 1840 - com a única exceção do nosso conhecido da Guiana Inglêsa).
Muitos filatelistas concordam que tornar-se um "colecionador de temas" é a melhor maneira de o principiante ingressar nos prazeres proporcionados pelo passatempo centenário e afirmam que dá mais prazer e exige menos do que o segundo passatempo mais popular entre os colecionadores - peixes tropicais.
Para se iniciar, êles aconselham: 1) Escolha um assunto que realmente lhe interesse. 2) Consulte os revendedores próximos, que acolherão com prazer novos colecionadores, por modestos que sejam. 3) Encomende poucos selos de cada vez, para não ficar assoberbado. 4) Aumente o conhecimento do seu assunto lendo sôbre ele.
Boa sorte e divirta-se bastante - quer comece com vegetais ou violinos, construção civil ou montanhas, bibliotecas ou faróis (todos, aliás, temas populares).
Referência completa da matéria transcrita:
BIRNIE, W. A. H. Um mundo de selos. Seleções do Reader's Digest, Rio de Janeiro; São Paulo, p. 44-51, dez. 1970.
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